sábado, 8 de janeiro de 2011

CAPÍTULO IV - HERANÇA DO SENHOR – CARLA

Aquela linda garota acabava de renascer naquele momento e foi surfar transformada, sorrindo entre os colegas. Eu a apreciava com emoção. Estava tão entretida que nem senti alguém chegar suavemente me chamando pra que eu não me assustasse:
- Mãe.
Eu olhei pra trás e admirei meu garotão lindo, os cabelos cacheados e castanho escuros, o físico forte embora nos últimos tempos estivesse com um pouquinho mais de peso. Olhei pra ele com a mesma ternura que da primeira vez que o tive nos braços.
- Oi, querido.
- Eu emborquei no sofá.
- Cê tava muito cansado, por isso não o chamei. Cê quer falar comigo, filho?
- É...
- É... Precisa ensaiar pra se abrir com sua mãe?
- Mãe, em primeiro lugar, desculpa por eu ter ficado de tão mau humor na vinda pra cá.
- Tá desculpado filho. Só não quero que fique um clima pesado, de silêncio entre nós. Sei que tá sentindo um pouco de falta do seu pai, mas ele tá mais ocupado, não é por não ligar pra você. Ele gostaria de ter vindo.
- Eu sei.
- Fala filho. Eu e seu pai sempre estivemos dispostos a ouvir você.
- Mas mãe... Eu já falei com vocês...
- O que filho? Você parece comigo quando tinha a sua idade. Quando eu queria falar sobre uma coisa difícil eu enrolava, enrolava e era preciso que alguém puxasse o assunto de mim. Só que eu continuei a ser assim com um pouco mais de idade do que você agora e quem puxava assuntos pra eu me abrir eram a Brenda e a Alessandra, porque meus pais não eram bons ouvintes. Mesmo que eu e seu pai discordemos, nós te ouvimos.
- Mãe, me diz uma coisa: como é que se sabe o gosto do guaraná se não podemos provar?
- QUÊ?! – fiquei espantada – Onde é que cê ouviu isso? Com certeza nem eu nem seu pai usamos esse vocabulário esquisito, com cheiro de mundão!
- Tá vendo, mãe? Não adianta falar!
- Adianta sim. Você se prende e quando fala se estoura deste jeito é por que não tá confiando nos valores que seus pais passam pra você ouvindo essas barbaridades que os colegas da escola, da academia falam! Qual é rapá?! Vai se deixar levar por essas idéias que garotas são mercadoria, que o garoto tem que mostrar que é machão?! Você quer agradar a Deus ou aos homens?
- Pôxa, mãe, ficam me zoando!
- E você é o que dizem? Você sabe que não. Ser macho não é ser pegador de mulher. Pra seguir Jesus, meu filho, tem ser muito mais macho do que esses filhinhos de papai por aí que tem tudo, mas não têm o que mais precisam: Jesus. Por que ao invés de se comparar a essas pessoas vazias você não se mira no exemplo dos seus irmãos? Marquinho soube esperar e taí casado e feliz. Você ainda tá com 15 anos, começando a vida e já tá entrando nessa?! Criança tem que ser criança e adolescente tem que ser adolescente! Vai se deixar transtornar por opiniões desses garotões metidos que só querem se mostrar?
- Ah, mãe... Sei lá...
- Filho, você aprendeu todos os princípios da vida cristã. Sei que você sofre, mas é assim mesmo. A gente é mais que vencedor. É nessas horas que a gente tem que ter na ponta da língua o que aprende na Bíblia: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16: 33-b)
- Mas eu sinto atração por garotas.
- É natural, Biel, mas a atração vem e passa por que nesta idade você ainda não pode saber quem vai ser sua companheira um dia. Atração pelo sexo oposto é normal. Mas se alguma menina tem a visão do mundo e você entra na dela se dá mal. Eu conheci uma senhora cujo filho se deixou levar pelos encantos de uma menina que não era da igreja. Daí, naquele pensamento de que não teria nada demais por que hoje em dia isso é normal, ela ficou grávida, ele descobriu que não a amava, que só teve uma empolgação. A mãe avisou que ele ia se machucar por que ela não era da igreja. Agora ela fica em cima dele por causa de pensão pra filha, ele casou com outra da igreja, mas ela faz tudo pra perturbar. O rapaz pagou o preço por não buscar a direção de Deus. Quero que tudo pra você seja sempre melhor.
- Do que foi com você e meu pai?
- Exatamente. Eu e seu pai erramos, mas nos arrependemos e Deus restaurou nossas vidas. Mas você conhece a palavra de Deus, nós quando nos conhecemos, não.
- Mãe...
- Que é filho? - Gabriel olhou pra mim e uma lágrima rolou. Igual a mãe, emotivo como ele só, não que o pai não fosse, mas sempre achei meu filho uma versão masculina minha, até nos sentimentos.
- Eu te amo.
Ele me abraçou e ainda disse:
- Fazer a vontade de Deus é difícil, né?
- É, mas não é impossível. Ele tá com a gente. “Pois me cingiste de força para a peleja; fizeste abater debaixo de mim aqueles que contra mim se levantaram”. (Salmos 18: 39)
- Mãe, como teria sido se você não tivesse perdido o outro filho?
- Você gostaria de ter um irmão que também fosse meu e do seu pai?
- Eu amo meus irmãos, mas sei lá, fico imaginando como seria.
- Filho, eu nem sei. Tudo aconteceu tão de repente que nem deu pra pensar.
- Você sofreu muito quando perdeu o neném né?
- Sim, filho. Nós, mães, sentimos a perda até dos filhos que não pudemos abraçar. É uma dor indescritível. Quando relatei isso no blog, duas leitoras que perderam filhos comentaram. As situações foram diferentes, mas o sentimento de perda é o mesmo.
- Hoje eu me sinto filho único. Meus irmãos casaram todos.
- É. Você é o bebê da família e acabou sendo privilegiado pela diferença de idade dos seus irmãos. Eu e seu pai preferimos ficar só com você pra poder te dar mais atenção, foi de comum acordo.
- Como foi quando meu pai soube que cê tava grávida, mãe?
- Ah, meu filho... Ele parecia que ia explodir de tanta felicidade! A gente não tinha ainda 3 meses de casados, eu descobri e fui logo contar pra ele, queria que fosse o primeiro a saber. A gente até desconfiava, mas não tinha certeza. Ele tava no escritório e nem tava lembrando de tão atarefado. Eu disse que fiz o exame de farmácia e ele chegou a pular! Sua gestação foi muito amorosa, ele acariciava tanto minha barriga. Ele sempre foi muito carinhoso, naquele tempo então, ficou um melado. Nem este mar exemplifica a transbordante felicidade que foi a confirmação da minha gravidez, acho que foi um maremoto de emoção, de alegria, o nosso amor aumentou mais a cada dia. Você foi um presentão. Por isso que eu sou tão zelosa, até exagerada, mas tenho que cuidar do que Deus me deu. Gratidão também é isso. Um dia você vai ter a mesma experiência. Seu pai pode parecer rígido muitas vezes, pode parecer que é a idade, ele tinha 40 anos quando você nasceu, mas ele te amou desde o meu ventre.
- Pôxa... Sem palavras...
- Lembre-se sempre do quanto é amado e esqueça os que aparecem como pedra de tropeço no seu caminho. A caminhada com Jesus não é moleza, mas traz vitória. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (II Coríntios 4: 17)
- Amém.
Abracei muito meu filho amado. Este foi um dos momentos mais marcantes que vivi como mãe, embora tenha sido no ano passado, mesmo atrasado mereceu destaque neste blog que já conta com 61 seguidores. Lembrei do momento que ele nasceu, quando olhei pro Marcos e disse: “Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão.” (Salmos 127: 3)

4 comentários:

  1. Gostei dessa capítulo.Realmente é muito difícil para um adolescente seguir a Cristo sem se incomodar com as pressões do mundo.Não só para adolescentes, mas para todos nós.

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  2. É muito raro ver os filhos se abrindo com os pais.
    Mas é a melhor decisão do filho escolher os pais como melhores amigos, por que é deles que vem os melhores conselhos.
    Pena que muitos pais não sabem ouvir seus filhos.

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  3. Que legal a relação da Carla com o filho!! É muito bom quando um filho tem a liberdade de conversar assim, seja com o pai, ou com a mãe!! E além de princípios morais e éticos, a Carla tem o melhor e mais importante princípio que um pai pode ter pra passar pra seus filhos, os princípios critãos!

    Muito inspirador este cap!! Parabéns!

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  4. Este capítulo me lembrou quando Júlia resolveu se abrir com a mãe! Devemos ter em nossos pais os nossos maiores exemplos e amigos...
    Concordo com a Bia, muito inspirador!!

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