sábado, 26 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO VIII - DE GRAÇA RECEBESTES, DE GRAÇA DAI – BETO

DE GRAÇA RECEBESTES, DE GRAÇA DAI – BETO
- Beth, eu fui usuário de drogas. Durante um período eu não usava frequentemente, mas foi num Réveillon que o vício tomou conta de mim. Sabe aqueles “amigos” que aparecem pra zoar?
- Sei. Como os que apareceram pra que o Jonas fizesse o que fez.
- Pois é. Naquela época eu namorava a Alessandra e ela tava comigo rompendo o ano na praia de Copacabana. Perdi completamente a noção das coisas, do respeito. Magoei demais minha namorada, mas felizmente em conseqüência disso ganhei uma grande amiga e eterna irmã em Cristo. Eu tive uma overdose, fui parar no hospital, minha irmã segurou a barra porque meus pais estavam fora. Um amigo meu Alex chamou a Alessandra e ela assim que soube foi correndo pro hospital. Ela já era de Deus, só faltava declarar isso. Ela foi muito boa pra mim. Lembro como se fosse hoje quando foi me visitar:
- Você deu um susto na gente. – ela disse
- Lessandra... – eu quase não conseguia falar, chorava demais.
- Beto, que é isso, cara, reage. Não se entrega.
- Eu... achei que cê nem quisesse mais ver minha cara.
- Beto, eu tô aqui como amiga. Eu perdôo tua fraqueza. Claro que não gostei nada quando te vi tascar um beijo na garota daquela turma na praia, mas isso me fez ver que não devemos nos enganar. Quero ser sua amiga, uma amiga fiel, que sempre vai desejar o melhor pra você.
- Eu vacilei muito contigo.
- Beto, você vacilou como namorado, mas em parte a culpa é minha. Eu também usei você, a gente não se ama. O que você sente por mim é atração, desejo. Nós vamos lucrar muito mais sendo amigos.
- Eu sei... Você soube ser fiel como namorada, mesmo sem me amar.
- E posso amar muito mais você como amigo. Eu quero o seu bem, sua irmã tá muito preocupada com você. Sua recuperação é pra você mesmo, depois pra sua família, pros seus amigos verdadeiros, não aquela turma que só aparece pra te levar pro mesmo buraco que eles, mas amigos como o Alex, que ligou pra mim, preocupadíssimo contigo. Eu fico muito triste vendo pessoas que querem se destruir e destruir o próximo. Cara, se acontece alguma coisa com a Brenda e com a Carla, o mundo desmorona pra mim, é pior do que se fosse comigo. Toma cuidado com suas companhias, Beto. Você precisa de ajuda, mas tem que querer.
- Eu sei... Eu... Eu quero Lessandra. – eu não agüentei e chorei muito mais
- Tá, Beto, tenha isso em mente sempre. – Alessandra se chegou a me abraçou - Eu vou estar perto se precisar de mim.
Beth ouviu meu relato com atenção.
- Alessandra sempre foi uma boa pessoa. Eu disse - Deus já tinha escolhido a vida dela pra abençoar os outros, só ela ainda não entendia que tinha um amor muito grande pelo próximo.
- Gosto dela como uma mãe. – Beth disse
- Quando ela aceitou Jesus aprimorou os dons que já tinha. Eu fiquei um tempo trabalhando em São Paulo, depois o Allan me convidou pra assistir os treinos pros campeonatos de surf aqui em Floripa. Fiquei maravilhado como ele liderava ainda muito jovem o grupo. Como tinha prazer em ensinar, com amor, dedicação e usando como base a palavra de Deus. Depois disso, pra ir à igreja foi rápido. Assisti às reuniões de cura de dependência química e emocional. Antes disto eu já não procurava mais ninguém daquele pessoal que me botava pra baixo, mas sabia que algo me faltava. Não conseguia levar relacionamentos adiante e também não encontrava uma mulher que me completasse, não tinha a direção de Deus. Quando fui à reunião da igreja, um dos temas mais abordados foi co-dependencia, pessoas que dependem das outras, mas na realidade não se amam. Leram a passagem: E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele. (Gênesis 2: 18). Eu ainda não entendia que não ser só não era simplesmente pegar a primeira mulher que aparecesse. Passava por estágios de solidão, eventualmente bebia e depois ficava deprimido. Minha irmã segurou barras, ia me ver em São Paulo. Quando voltei ao Rio, me sentia ainda perdido. Fiquei liberto completamente depois que aceitei Jesus. Hoje eu faço parte deste ministério de libertação.
- Você faz reuniões na sua igreja?
- Vou ficar aqui mais alguns dias e presidir uma reunião no início desta semana.
- Pôxa, o Jonas tinha que ir!
- A gente consegue levá-lo. “Não temas, crê somente.” (Marcos 5: 36 - b)
- Beto, aquele garoto, o Ricardo, foi dedo duro, será que isso também não vai ser avaliado? Como é que ele conseguiu o vídeo com o Jonas puxando erva?
- É uma questão para avaliar mesmo. Allan vai saber fazer isso.
Pouco depois de falar comigo Beth foi chamada pelos pais pra ir ao hospital. Jonas queria falar com ela. Logo que voltou, me procurou:
- Beto, amanhã o Jonas sai do hospital e eu o convenci a ir à reunião.
- Não foi você, meu bem, foi O Espírito Santo de Deus.
- É mesmo, Beto, ‘brigada. – Beth em sinal de respeito deu um beijo na minha mão. Eu fiquei comovido e dei-lhe um abraço.
- Você é mais uma filhinha que eu ganhei aqui.
- Eu sei que você é pai de muitos que foram recuperados e Jonas vai ser mais um filho que você vai ganhar pra Jesus.
- Com certeza.
Jonas foi assistir à reunião que presidi. A palavra que dei veio como um raio à minha mente e impactou muitos, inclusive os que estavam lá pela primeira vez. Cada participante leu um versículo e justamente na vez de Jonas, ele leu:
- “E o mestre do navio chegou-se a ele, e disse-lhe: Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim ele se lembre de nós para que não pereçamos” (Jonas 1: 6)
Parecia que ele se dividiu em dois quando leu. Com certeza o texto foi para ele. A expressão de seu rosto dizia tudo. Foi como se a razão o despertasse. Perguntei se alguém queria analisar o texto lido e poucos falaram. Mas depois na segunda parte, quando dei 10 minutos para que cada um desse o seu depoimento eu percebi o impacto de cada um, inclusive do Ricardo, que confessou:
- Eu tava afastado da igreja. Fiquei com raiva de muita coisa que aconteceu na minha família. Não quero falar muito sobre assuntos mais íntimos, só quero pedir perdão ao Jonas e embora ele tenha feito a coisa errada, eu errei também por que armei. Eu pedi pra que o Marcelo oferecesse o cigarro pra ele. Por isto mesmo, não mereço estar aqui. Jonas sai, mas eu também.
Jonas olhou para Ricardo espantado, pois não esperava pela confissão. Logo depois pediu a vez e disse:
- Pode ter sido armado, mas eu fui fraco. Eu... Tô muito envergonhado. Me comportei de uma maneira horrível, quis chamar a atenção. É como tá no texto. Eu tumultuei a vida da minha família, criei uma tempestade por causa da minha desobediência.
Gostei da sinceridade dele e senti em seu olhar a confirmação do seu arrependimento.
- Você está entre amigos, Jonas. Já reconheceu o erro e mesmo que não possa entrar assim como o Ricardo, poderá ter muitas outras oportunidades. Deus já te perdoou. Agora volte-se pra Ele. Deixa Jesus tomar conta inteiramente da sua vida.
Jonas pediu perdão a todos os familiares. A bonança veio depois daquela grande tempestade. Os pais dele pouco depois daquela reunião vieram a mim:
- Nós queremos te agradecer. – o pai dele disse primeiro
- É eu nem imaginava como tudo o que houve poderia nos fazer pensar e reconstruir nossas vidas. – a mãe dele concordou
- Deus nunca faz menos do que promete, mas frequentemente mais do que prometeu. – eu afirmei
- É mesmo. – o pai de Jonas olhou pra esposa com um olhar de confirmação
- Pelo que vejo vocês estão se entendendo bem melhor. – constatei ao ver os dois abraçando-se
- Eu quis me auto-afirmar e coloquei toda o meu intelecto, todo o meu conhecimento de psicologia acima de Deus, mas assim que vi como a Beth ficou depois da discussão com o Jonas, dizendo que precisava de um tempo pra pensar sozinha, aproveitei pra fazer o mesmo e refleti muito. Refleti mais ainda depois de ver o Jonas chorando no hospital. Ele disse até que queria morrer.
- O Jonas da Bíblia também disse isto: “Peço-te, pois, ó SENHOR, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.” (Jonas 4: 3) Vê como a palavra se torna viva? Ele teve revolta, mas Deus também falou com ele como na passagem: “Fazes bem que assim te ires”? (Jonas 4: 4). Deus sempre nos traz de volta à razão, basta que ouçamos a voz d’Ele.
- Nós vimos nosso filho desesperado, nossa filha triste, mas sabe quem ficou mais centrado, lendo a palavra, com as mãozinhas juntas em oração, quietinho, ajoelhado? O nosso caçulinha, o Lucas. A fé dele nos fez ver o quanto nós estávamos sendo negligentes, pensando em nós mesmos, achando que só pelo fato de estarmos aqui estávamos cumprindo nosso dever como pais, não querendo nem pensar na possibilidade de uma reconciliação. – o pai de Jonas disse
- Depois da tempestade, veio a bonança. Houve uma demolição, mas nós vamos reconstruir uma casa que vai ser uma fortaleza. - a mãe de Jonas olhou sorrindo para o marido.
- Em nome de Jesus. – o pai de Jonas deu um beijo carinhoso no rosto da esposa e se abraçaram.
Ricardo também se reconciliou com Deus e a palavra se cumpriu: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. (II Coríntios 5: 17).
Mais VIDAS SEPARADAS para Deus. Como é maravilhoso ver que quando tudo parece perdido Deus mostra que foi a ansiedade que nos fez pensar assim. O tempo de Deus não é nosso tempo. Em relação a família de Jonas é como está na passagem: tempo de derrubar, e tempo de edificar; (Eclesiastes 3 : 3-b). Todos precisaram daquela desestruturação para reestruturar suas vidas podendo dizer assim daí pra frente: E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. (Mateus 7: 25)
Eu fiquei mais uma vez realizado ao ver se cumprir a palavra da promessa de Deus e colocar em prática o versículo: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”. (Filipenses 4: 9)
Não parem de acompanhar este blog. Jonas ainda vai contar nele o que Deus fez na sua vida.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO VII - RECOMEÇO - BETH

Depois de dois anos eu estava de volta. Lembro de tudo como se estivesse acontecendo agora. Apesar de nascer num lar de origem cristã, minha relação com Deus não se deu tanto pela influência de meus pais. Minha infância foi indo e saindo da igreja, mas desde cedo entendi que Jesus é o único caminho. O ingresso nesta academia foi decisivo para que eu intensificasse minha relação com Deus. Houve a etapa classificatória e eu e meu irmão mais velho, Jonas, nos inscrevemos. Meu irmão caçula, Lucas, veio torcer e meus pais também. Minha mãe estava o tempo todo com um ar de crítica, pois sabia que os princípios cristãos eram a base daqui. Depois de separada do meu pai, ela seguiu a carreira de psicóloga e pra ela as leis da psicologia eram superiores às leis de Deus. Allan reuniu o pessoal, apresentou-se rapidamente e antes dos candidatos se apresentarem, convidou:
- Vamos fazer a oração que O Pai ensinou: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. (Mateus 6: 9 - 13)
Depois de uma explanação sobre toda a rotina, Allan frisou bem:
- Aqui não será tolerada mentira e ninguém pense que possa nos enrolar. Temos meios de descobrir as irregularidades e simplesmente aquele que não for leal não ficará. Trapaças durante as competições e falta de respeito aos colegas implicam em desconto de pontos e até desclassificação dependendo da gravidade do ato.
Quando acabaram as apresentações, minha mãe comentou:
- Até parece que todos vão ter um comportamento exemplar. Todo o ser humano mente, nem que seja uma mentirinha.
- Mãe, pra Deus não tem mentirinha, nem mentirão, é tudo mentira.
- Lá vem você com suas pregações.
- E você com suas polêmicas.
- Mas eu acho que todas as pessoas mentem.
- Por que pra você sua psicologia é superior à palavra de Deus.
- Beth, não vou discutir com você.
- Nem tão pouco eu com você.
- Tá, então dá licença, antes que eu fique mais saturada do que já tô.
Ela saiu de perto e Alessandra que assistia nossa discussão olhando um pouco de longe, se aproximou.
- Que foi lindinha?
- Deixa pra lá... – eu respondi de cabeça baixa e não consegui conter as lágrimas que começaram a rolar.
- Daqui a uma hora é a competição pra classificação. Fala, por favor, você precisa desabafar, isso vai influir no seu rendimento.
Eu resumi o ocorrido e ela disse:
- Lembra o que a palavra diz? “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.” (Efésios 4: 26). Não que você tenha dito nada de errado, mas deixa O Espírito de Deus trabalhar. Se reconcilie com sua mãe, vai fazer muito mais mal a você do que à ela a discussão.
Logo depois procurei minha mãe que antes que eu falasse, disse:
- Eu não quero aumentar sua tensão pra hora de competir, me desculpe.
- Eu que peço perdão mãe. Não devia discutir. Tudo tá nas mãos de Deus, inclusive minha vitória e se eu não ganhar, não vou me sentir perdedora, tudo é experiência.
Falei com Alessandra que observou:
- Dá pra ver no seu rosto estampada a expressão de alívio.
- É muito ruim a gente não se entender em família.
- Mas vai ser bom pra você o tempo que vai ficar aqui. Vai ficar mais independente, se disciplinar mais. Vai ser como um retiro espiritual prolongado.
- É mesmo.
- Ainda tem mais de meia hora. Põe em prática esta passagem: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.” (Mateus 6: 6) vai lá ao alojamento aqui à direita e faz isso.
Orei rapidamente, coloquei toda a minha ansiedade nas mãos do SENHOR. Sei que ele deu todo o alívio necessário. Voltei e vi meu irmão Jonas tenso, sinalizando pelo olhar fixo no mar que não queria conversa.
Iniciou a competição. As meninas foram primeiro. Eu dei tudo de mim.
- Vai comigo acampando seus anjos ao meu redor, Senhor. – eu disse enquanto deslizava no mar com a prancha, aguardando o momento de pegar uma boa onda.
Vi a onda ideal que parecia um presente direto de Deus, me coloquei na posição e senti meu corpo tão leve sobre a prancha como se os anjos do Senhor me segurassem. Foi tudo tão rápido, a primeira e a segunda bateria, contrastando com os momentos anteriores da espera que pareciam uma eternidade.
- Você foi muito bem, filha. Tem grandes possibilidades de vencer. – minha mãe elogiou
- Acho que sim. – eu reconheci meu empenho, mas no íntimo ainda tava um pouco apreensiva.
Meu irmão Jonas estava confiante e eu o admirava muito. Sempre fomos unidos e surfávamos juntos desde muito pequenos. O mar sempre foi meu ambiente natural. Jonas tinha 10 anos e eu 9 quando participamos pela primeira vez de um torneio estadual mirim. Ele tirou o 1º lugar entre os meninos e eu também entre as meninas. Éramos uma dupla dinâmica e tudo indicava que assim continuaríamos. Mas as coisas mudam. Assim como as ondas passam, águas diferentes rolariam na nossa boa relação de irmãos. Na hora de competir, Jonas deu tudo. Na contagem de pontos ele estava em primeiro, empatando com outro garoto, Ricardo.
- Vamos ter que fazer uma prorrogação pra desempatar. - Allan anunciou
- Não é preciso nenhuma prorrogação. – Ricardo interveio.
- Como assim? – Allan estranhou
- Eu tenho provas que este cara infringiu o regulamento! – Ricardo insistiu
- Pode me mostrar essas provas? – Allan falou calmamente.
- Claro que posso. Vem comigo. – Ricardo respondeu confiante
- Se é sobre mim eu quero ir ver essas provas também! – Jonas ficou irado.
- Eu também quero saber o que tá acontecendo. – eu disse
- Fica fora disso, Beth! – Jonas falou como se temesse que eu descobrisse alguma coisa.
- Por que você não quer que sua irmã vá? – Allan perguntou manso
- Eu... Isso não é assunto dela!
- Mas eu quero que ela e seus pais saibam o que é. – Allan continuou manso, mas incisivo
Foram os três para a sala. Eu também fui e meus pais foram chamados. Ricardo mostrou uma gravação que havia feito de Jonas conversando com um garoto de lá, o Marcelo. Na gravação Marcelo oferecia um cigarro de maconha para Jonas, dizendo que isso iria fazer com que ele relaxasse antes da competição. Aquilo me pareceu tramado, mas Jonas aceitou e fumou aquela erva maldita.
- Contra fatos não há argumentos. – Allan afirmou – Nesta gravação há provas de várias infrações. Você se afastou do local da competição e só por este fato já poderia ser desclassificado. Além disso, fumou um cigarro de maconha.
- Tá, eu fumei! Mas algum dedo duro gravou!
- Tá, mas infelizmente, você tá fora. – Allan deu o ultimato.
- Vocês não podem reconsiderar?! – meu pai irritou-se – Falam tanto em perdão e não perdoam uma falta!
- Ninguém está negando perdão ao seu filho, mas temos critérios que têm que ser respeitados e reunimos todos os concorrentes esclarecendo que infrações acarretam a desclassificação. Temos responsabilidades com o grupo inteiro e muitos ainda não têm 18 anos. Seu filho demonstrou instabilidade emocional. Ele precisa curar-se de uma tendência.
- Só por que “puxei uma”, não quer dizer que eu tenha tendência! – Jonas protestou
- Pode não ter agora, mas depois você pode querer experimentar alguma coisa mais forte e eu tenho uma instituição pela qual devo zelar e que não pode ficar comprometida diante de outros alunos, de seus pais e dos meus patrocinadores.
- Foi uma fraqueza, isso não pode ser relevado? – minha mãe indagou.
- Não há como abrir precedentes. O nome da academia e de todos envolvidos entra em jogo. Um erro é um erro, não pode ser encoberto. Isso faz parte do crescimento.
- Como pode garantir que não haja outros fazendo o mesmo por aqui? – meu pai perguntou
- Se houver, temos como descobrir.
- Por algum dedo duro, naturalmente! – meu pai lançou um olhar acusador para Ricardo.
- Mesmo que seu filho não fosse dedurado, temos outros meios de descobrir que não revelamos e, além disso, somos atentos ao rendimento e conduta dos alunos. Claro que ele poderia ter usado uma vez ou outra e não dar a perceber a ninguém, mas tivemos provas e não podemos admitir a permanência de um aluno aqui nestas condições. Se ele não tivesse sido descoberto agora, poderia ser depois, mesmo sendo classificado. Com o tempo continuando no vício, o desempenho dele poderia baixar. Uma mentira não dura tanto tempo quanto possa se pensar.
- Então minha filha também não vai ficar! – meu pai impôs, levantando-se raivoso.
- Quê?! – eu gritei estarrecida
- É isso mesmo! Você é menor, está sob a responsabilidade de seus pais e se não podem aceitar seu irmão aqui, eu também não quero que você fique! Vocês crentes são conversa fiada! Depois ficam dizendo pra perdoar!
- Perdoado, seu filho está e eu também peço que nos perdoe e entenda, pois perdoar não significa infringir regras. Seu filho precisa ser ajudado. Não desconte a frustração na sua filha, por favor.
Meu pai não quis mais conversa e saiu bufando de raiva, minha mãe pediu calma a ele e desculpou-se com Allan e Alessandra. Eu saí correndo e chorando. Alessandra foi atrás de mim.
- Beth, eu lamento, eu vou falar com seu pai.
- Ele tá inflexível! – respondi chorando mais ainda e Alessandra me abraçou. Logo depois vi minha mãe
- Filha, eu discordo de você em várias coisas, mas estou muito chateada com seu pai e com seu irmão. Vou falar sério com os dois.
- Não, por favor! Vocês vão brigar! Poxa, eu nunca pensei que poderia acontecer justamente o que eu mais pedi pra que não acontecesse! Eu vejo minha família cada vez mais desunida!
Meu irmão menor, Lucas apareceu e disse docemente:
- Não fica assim Beth. Tudo vai acabar bem. Você diz sempre: Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. (Mateus 6: 33). Então? Vamos orar, Deus vai responder.
Eu sorri e o abracei. Felizmente eu tinha no meu irmãozinho um homenzinho de Deus e nunca o proibiram de ir à igreja comigo. Nós oramos e depois meu pai apareceu com a cabeça mais fria e falou:
- Desculpe filha, fiquei muito irritado. Apesar de eu e sua mãe não concordarmos em muitas coisas, ela soube como argumentar. Não vou impedir você de realizar seu sonho.
Fiquei feliz por meu pai ter voltado atrás e o abracei.
- ‘Brigada por ter reconsiderado, pai.
Meu alívio durou pouco, pois lembrei imediatamente de uma coisa:
- Cadê o Jonas?
Ninguém sabia dele. Jonas simplesmente sumiu sem falar com ninguém. Anoiteceu e nada dele aparecer. Começamos a ligar pra polícia, hospitais e até procuramos saber dele por amigos que moravam perto. Amanheceu e até as 07h00min não tínhamos nenhuma notícia. Finalmente, a polícia comunicou que houve uma quebradeira numa festa lá perto, organizada pelo pessoal que perdeu a competição. Era uma espécie de “premio de consolação” que a galera se dava, e as conseqüências geralmente eram desastrosas. Algumas pessoas fugiram quando perceberam a chegada dos guardas. Fui com meus pais à delegacia e um rapaz conhecido tava lá, o Léo, num estado lamentável, olhos vermelhos, devia ter bebido, cheirado e fumado tudo o que se sentiu no direito. Ele deu trabalho aos policiais que exigiram que ele dissesse tudo o que ocorreu na festa. Os pais dele foram chamados e pagaram fiança, mas antes perguntamos sobre Jonas e Léo disse:
- Jonas continuou a comemoração com outros num barco na praia de Barra da Lagoa.
- Tá, mas e depois disso alguém soube dele? – meu pai perguntou aflito
- Não. – Léo disse
Fomos todos pra lá e nada de Jonas. Anoiteceu, continuamos a procurar e na manhã do dia seguinte fomos a um hospital próximo e soubemos que tinha dado entrada lá um garoto afogado socorrido por um pescador. Apesar das esperanças renovadas, ficamos aflitos, pois mesmo sabendo que o garoto estava com vida, não sabíamos se era Jonas. Encontramos o quarto e entramos.
- Jonas! – eu gritei ao mesmo tempo aliviada e angustiada por saber seu estado. Ele ficou bem machucado. Estava com ataduras na cabeça.
- Beth... - ele falou com dificuldade.
- Por que você fez isso? – perguntei chorando
- Queria nos assustar e conseguiu. – minha mãe mesmo aliviada por tê-lo encontrado foi dura demais
- Mãe! Não fala assim, como se ele fosse um caso perdido! – eu pedi
- O problema pra mim não é ela, é você! – Jonas disse para mim
- Eu?! – fiquei atônita com aquela afirmativa
- É. Ela sempre gostou mais de você, a filhinha querida, a mais perfeita, sempre elogiando seu surf, sempre exigindo mais de mim!
- Isso não é verdade, Jonas. – minha mãe falou baixo, mas firme - Eu nunca fiz diferença entre vocês. É natural que uma mãe seja mais zelosa com a filha mulher e ela não era tão segura no começo. Tudo o que fiz foi apoiar sua irmã. Você sempre demonstrou mais agilidade.
- O que eu mais aprendi foi com você, Jonas. Se te magoei sem sentir, me perdoa.  
- Grandes coisas, agora tô fora mesmo!
- Mas pode voltar. Pode se libertar desta situação e provar sua capacidade sem se deixar levar por um vício. – eu argumentei
- Não é vício, eu puxei poucas vezes, não foi justo me desclassificar por um vacilo sem importância!
- Sem importância pra você! Isso pode prejudicar outros que queiram experimentar só de ver você fazendo. – tentei fazer Jonas entender a gravidade do seu ato, mas ele não dava o braço a torcer.
- O ano tá perdido pra mim.
- Não, não tá! O que você precisa Jonas é sair de dentro do grande peixe, do seu mundinho interior e entender que o seu vacilo poderia afetar uma equipe inteira! Você se queixa de mim, da mamãe, não reconhece que o papai não mediu esforços pra que você estivesse aqui e todos vieram pra torcer por você, tanto quanto por mim. Fuma uma porcaria, joga tudo fora e bota a culpa nos outros que te amam e ficaram te procurando! Você quer sempre chamar a atenção! Cresce cara! Você é mais velho que eu e tá se comportando como um bebe mimado! Nunca quis te magoar, mas você tá atingindo a todos com suas atitudes inconseqüentes, passou dos limites! Você é mais rebelde que o Jonas da Bíblia foi! Mas espero que como ele, que foi osso duro de roer, ainda possa cair em si!
Saí, correndo daquele hospital. Arrasada, machucada, ferida mesmo. Meu irmão que eu amava tanto com tanta mágoa de mim. Minha mãe tentou me conter, foi atrás de mim no corredor.
- Beth, ele tá revoltado, mas vai passar, não fica assim minha filha! – ela me abraçou e eu correspondi, mas precisava de um tempo.
- Vai passar sim, mãe, mas eu preciso ficar um pouco só, não leva a mal.
- Claro, minha filha, mas não dá um sumiço como ele deu por causa disso, vou ficar preocupada.
- Não se preocupa, eu vou lá pra academia. Vou pensar um pouco, esfriar a cabeça. Acho bom que todos nós fiquemos um pouco sozinhos pra pensar em tudo que tá errado.
- Tá, você deve estar certa, vou seguir sua intuição.
Fui pra academia e chorei muito, fui consolada por Allan e Alessandra e depois pedi pra ficar um pouco só. Fui orar perto do mar. Clamei ao Senhor com muitas lágrimas nos olhos e na minha oração gritei pra Ele aquela passagem bíblica que era tudo o que eu sentia naquele momento de angústia: “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Salmos 51: 17).
- É isso mesmo, minha filha. – disse alguém com uma voz terna de um pai que não era o meu, mas naquele momento O Pai o enviou como um anjo pra amenizar a dor que eu sentia. Virei-me assustada, mas aquele olhar doce deu-me confiança.
- Oi. – disse eu impactada. – Quem é você?
- Eu sou Beto. Soube do problema do seu irmão e quero ajudar.
- Como?
Assim Beto tornou-se o personagem principal no desfecho desta história.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO VI GRATIDÃO – NATALINHA

- Que suspiro tão profundo é esse? – Alessandra perguntou.
- Ah, Lessa... – às vezes eu a chamo assim. – Tava lendo o testemunho daquela menina Flávia, a Carla também tá no blog, falando do Gabriel e deu uma emoção.
- Jesus dá umas emoções diferentes mesmo.
- Li também o início. Meu pai teve um errinho.
- É?
- Olha aqui: ele disse que eu tô com 21 e a Cris com 15. Ela já fez 16 e eu já tô com 22.
- É que ele postou sem revisar tudo, meio na pressa. Começou a escrever antes. Mas isto é só detalhe, mesmo. O blog já tá com 62 seguidores...
- Quando ele escreveu tava com 56.
- O que importa é a qualidade. Menos da metade postou, mas os que acompanham desde o início e os que começaram a ler depois postando os comentários dão o retorno que a gente espera.
- É mesmo. Eu li outras passagens. A Carla contando sobre o neném que perdeu, depois, quando reencontrou o Marcos. Pessoas que também perderam filhos se identificaram, mas sei que também foram renovadas pelo amor de Deus. Carla é um exemplo disto. O capítulo em que ela conta sua conversão é show!!! É lindo ver como as pessoas são gratas a Deus. Até me inspirei e deixei um comentário aqui:
Alessandra leu:
GRATIDÃO
Em primeiro lugar agradeço a Deus, meu Pai maior, depois ao meu paizão Allan, um surfista de Deus, sem esquecer a minha boadrasta “Lessa” e minha doce irmãzinha Cris, sintetizando através da passagem: Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome. (Salmos 100: 4). Vocês que são testemunho vivo disto. Também agradeço à Brenda, pastora, professora e permanente discípula de Cristo, através do seu testemunho de amizade incansável, um esteio, um porto seguro sempre firme num espírito de equilíbrio e liderança e sempre disposta a acolher com seu amor ágape todos que a procuram. Isto não é fácil. A caminhada é longa, mas conduz à vitória. Obrigada também a você, Carlinha, pelo seu testemunho de mãe, pelo nosso Biel, que você e o Marcos disciplinam com tanto amor e pelo seu amor ao próximo, pela sua maneira simples de evangelizar e ganhar pessoas pra Jesus, como fez com a Flávia que renasceu jogando no mar do esquecimento seu passado. Não poderia haver melhor cenário pra expressar o que é a renovação de vida como esta paisagem de Floripa, onde tantos jovens competem e não perdem pra outros, mas ganham experiência de vida e têm mais histórias pra contar neste blog que é um arquivo de vida, como no LIVRO DA VIDA DO SENHOR. É o BLOG DA VIDA. Das VIDAS SEPARADAS pelo amor de Deus. OUVI-ME, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O SENHOR me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome. (Isaías 49: 1). Os nomes de todos aqui são do Senhor, vidas do Senhor. É difícil expressar a emoção de ler aqui com palavras, por isto deixo que O Senhor fale por mim através da Sua Palavra: E ouvi toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. (Apocalipse 5: 13)
- Que lindo, Natalinha...- Alessandra abraçou-me e deu um beijo de mãe boadrasta em meu rosto. Uma lágrima de emoção rolou dos seus olhos.
- Muita gente chorou lendo o blog, né?
- É...eu revivo toda a emoção e os seguidores que são mais fiéis também relembram o que leram nesta nossa continuação.
- A vida continua com alegrias, tristezas, lutas, vitórias...
- Sem luta não há glória.
- E o mais importante é confiar neste Deus e sempre agradecer. “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. (Romanos 12: 2)
- Falando em gratidão, vamos lá pra fora dar uma olhada nos treinos?
- Vamo nessa, Lessa!
Fomos juntas e eu fiquei apreciando em particular uma treinadora que contemplava a imensidão do mar enquanto o pessoal fazia seus últimos treinos antes das eliminatórias bem próximas. Ela observava e abria os braços pro mar. Uma alegria contagiante emanava daquele rosto jovem e belo. Eu e a Lessa nos aproximamos devagar, tamanha era a comunhão daquela jovem com Deus, O exaltando por aquele elemento da natureza que Ele nos deu. Ela orava agradecendo:
- Obrigada Senhor, por este mar, por estas vidas, esses meninos e meninas que eu conheci e já amo tanto. Que eles entendam que nas eliminatórias não haverá vencedores nem perdedores, pois é o viver contigo que nos dá a vitória. “Porque a vitória é do povo de Deus!” – ela cantarolou - Eles terão outras chances assim como a que eu tive vindo aqui pra treiná-los. Obrigada Senhor pelo presente que ganhei e por outros que ganharei, pois só posso esperar pelo melhor aqui. Eu agradeço em nome de Jesus, amém.
Não resistimos e aplaudimos aquela oração.
- Glória a Deus!! – gritamos juntas.
- Ai! Vocês tavam aí há muito tempo? – ela perguntou um pouco assustada e rindo ao mesmo tempo
- Um pouquinho, mas não queríamos interromper o seu momento de comunhão com Deus. – Alessandra respondeu
- Lembra da minha enteada Natalinha?
- Tenho uma idéia de ter visto antes. – ela disse tentando lembrar.
- Natalinha, esta é a Beth, foi nossa cria e é nossa mais nova treinadora. Acho que não estão lembrando uma da outra porque no início do ano quando esteve aqui em lua de mel tava muito movimento, Beth tava treinando o pessoal sem parar, início de ano é duro, o treinamento é intensivo. Agora dá pra parar um pouco e desestressar antes da competição final.
- Eles ‘tão lá na água curtindo um pouco e treinando descontraídos, colocando em prática o que aprenderam durante o ano inteiro, quase que brincando. – Beth apreciou o entrosamento da turma
- Você deu muita segurança a eles. – Alessandra elogiou.
- Fiz o possível e Deus fez o impossível. – Beth acrescentou
- Você parece tão tranquila. – eu observei.
- É, mas eu comecei com medo.
- Mas você pegou logo o jeito. – Alessandra lembrou
- A responsabilidade assusta. – Beth colocou
- Eu esperava pela sua insegurança inicial, mas se aproveitamos você como treinadora é por que sabíamos que tinha potencial. – Alessandra afirmou.
- Eu agradeço primeiro a Deus, depois a vocês por essa oportunidade maravilhosa. Cresci muito. Foram duas etapas diferentes de crescimento.
- É. A primeira como aluna e a segunda como treinadora. – Alessandra comparou
- O crescimento dói um pouco, mas dá experiência. – Beth analisou
- Tem muito a ver com os treinos né Beth? – Alessandra estabeleceu um paralelo – Paulo mostra isso na Bíblia falando dos atletas. Os exercícios físicos doem no começo, depois todos tiram de letra.
- A garotada no começo ficava morta quando a gente mandava fazer 50 abdominais! – Beth lembrou rindo
- Tem coisas na vida que doem muito mais do que isso. – Alessandra colocou – seu começo foi duro
- Mas eu aprendi. Suportei a dor e conquistei a vitória.
- Todo o esforço traz compensações. Esta galera irada é uma das provas disso.
Beth apontou com carinho pra turma que se divertia surfando.
- Em falar nisso, você terminou os comentários no blog? – Alessandra perguntou
- Vai dar uma olhada lá. Vê se aprova.
- Com certeza vou aprovar. Escrito por uma pessoa tão sensível.
- Eu já posso imaginar os comentários. Tem umas meninas que escrevem que ‘tão acompanhando sem parar.
- É mesmo. A Érica que escreve DIÁRIO DA CAROL & ALINE, A Bia Suzena que escreve ASLINHAS DO MEU MUNDO, a Denise Beliato. São presenças constantes. Outras estão sumidas, mas deve ser por falta de tempo.
- Eu também li MEUS OLHOS TE VÊEM. Pena que tá parado. A história é linda.
- Nossos leitores são fonte de inspiração. O que vale não é o número e sim a qualidade, o que escrevem nos comentários. A sensibilidade é o melhor ingrediente pro texto crescer. Seja vindo de quem escreve, ou pelo feedback que o leitor dá.
- Com certeza estas que comentam sempre têm sensibilidade de sobra. – Beth observou
- Bom, vamos deixar você com o seu feedback aqui e vamos ler seu depô lá. Tô muito curiosa. – eu disse
- Té mais! - Alessandra e eu nos despedimos.
- Aguardo pelos seus comentários também. – Beth lembrou.
- Com certeza. – eu respondi.
Fomos eu e Lessa ansiosas pra ler.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO V - ENTÃO DIRÁS A TEU FILHO – GABRIEL

Reli com emoção aquele capítulo do blog, agora com 62 seguidores, depois de ler toda a saga das VIDAS SEPARADAS pelas circunstâncias, mas também para Deus. A separação de minha mãe e de suas amigas Brenda e Alessandra nada mais foi do que a separação para maior união. Eu ainda não me vejo com amizades assim, que formam um só corpo, o corpo de Cristo. O diálogo do capítulo anterior tem um ano e sei o que alguma mudou e aumentou: eu cresci em idade, em tamanho em amor pelos meus pais e acima de tudo na fé. Eu tenho meus altos e baixos, eu sei. Muitas vezes engrosso, sou malcriado com minha mãe, mas ela disciplina, dá até uma bronca e quando ela e meu pai chegam à conclusão que foram exigentes demais comigo, se desculpam e conversam muito. Nós não deixamos nada pra muito depois. Pra um pouco depois, sim. Muitas vezes, minha mãe olha pra mim séria e diz: “Vai pro seu quarto e depois conversamos”. Meu pai faz o mesmo. Eu sempre digo que eles são o casal 132, a união dos 66 livros da Bíblia. Eles erram, mas querem sempre acertar. São o exemplo vivo de como Deus perdoa e dá novas chances. Eu tenho muito orgulho dos meus pais. Agora mesmo eu li uma passagem bíblica que expressa tudo o que eles ensinam pra mim desde que me entendo por gente: Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos e juízos que o SENHOR nosso Deus vos ordenou?
Então dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito; porém o SENHOR, com mão forte, nos tirou do Egito;
E o SENHOR, aos nossos olhos, fez sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito, contra Faraó e toda sua casa;
E dali nos tirou, para nos levar, e nos dar a terra que jurara a nossos pais.
E o SENHOR nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao SENHOR nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. (Deuteronômio 6: 20 - 25)
- Quanta aplicação, hein?
- Hã, oi pai. – eu virei pra ele que acariciou meus cabelos
- Cê não cansa de ler este blog. E agora é mais um narrador.
- VIDAS SEPARADAS tá impactando vidas, pai. Eu não tenho nenhum problema em me aceitar como um cara sensível. Também, quem sai aos seus, não degenera. Sabe que eu leio e imagino como foi tudo pra você, pra minha mãe. É como se eu fosse alguém de fora, como se eu no momento que leio fosse transportado pros anos 80, que nem aquele filme...
- DE VOLTA PRO FUTURO?
- É. O cara faz com que o encontro dos pais fosse mais romântico e quando voltou tava tudo diferente.
- É... Mas o que a gente passou, tinha que passar. Foi a vontade permissiva de Deus.
- Lendo a Bíblia a gente entende algumas coisas assim e relê o mesmo que leu antes e descobre coisas novas.
- A Palavra de Deus se renova, meu filho. Algumas pessoas comparam minha situação com a sua mãe com a de Davi e Betsabá. Tem seus pontos em comum. Com a diferença que Davi conhecia a Deus, eu não conhecia. A prova dele foi mais dura que a minha.
- Sabe, pai, eu quando leio sobre o filho que a mamãe perdeu, tenho vontade de estar lá naquela hora dando um abraço, consolando. Eu viajo no tempo mesmo.
- Se não fossem Alessandra e Brenda...
- Mas glória a Deus pelas vidas delas. Elas são maravilhosas. Pai, eu não conheço ninguém que seja tão amigo assim. Acho que até dizer amizade é pouco é amor ágape, é união. Como aquela música da Fernanda Brum e Eyshila, CANÇÃO PRA MINHA AMIGA. É o que elas são. No capítulo que a Alessandra fala que os pais vão se separar, a Brenda e minha mãe nem pensam mais que vão mudar, mas ela sofre 3 vezes mais por que elas vão embora. A Alessandra ama tanto minha mãe que diz que foi pior do que tivesse acontecido com ela mesma.
- É...Deus tinha um plano pras nossas vidas, mas teria sido perfeito se a gente tivesse se reencontrado em outras circunstâncias.
- Mas Ele fez com que fosse até melhor o reencontro, né pai. Você pediu perdão, falou de Jesus pra ela. É de chorar também o capítulo que ela conta como foi. Eu choro quando leio que ela abraçou minha avó, se reconciliou com ela.
- Pra ver como é o perdão de Deus. Usou a Brenda pra que o seu avô a perdoasse nos últimos momentos de vida. O plano de Deus é perfeito. A gente é que atrapalha. Você vê. José sonhou o que ia aconteceu tantos anos depois, tinha o dom de interpretar sonhos, mas falou pros irmãos antes da hora. Comigo e sua mãe foi antes da hora, mas mesmo assim, Deus trabalhou em nossas vidas pra que acontecesse a nossa união no momento certo.
- Ainda agora eu li o que a minha mãe contou daquela menina Flávia. Ela te falou né?
- Ah, sei. Ela ganhou a competição do ano passado. Cê leu o que ela escreveu pra sua mãe? Tá no blog, Ó só:
À MINHA MÃEZINHA ESPIRITUAL:
Mamãe Carla. Minha mãe agora morre de ciúmes de você, mas ficou feliz por saber que Deus te usou pra me trazer de volta à vida. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. (Filipenses 1: 21) você me ajudou a renascer pra vida, pra vida com Jesus. Eu te amo demais. To aqui com Alessandra lendo o blog que tá bombando. Comentários emocionados de pessoas que choraram lendo e algumas até sentiram a mesma dor que você sentiu de perder um filho. Outras comentaram saudosas de amigas que não vêem há muito tempo. Eu tenho um carinho especial pela Alessandra, uma treinadora dedicada que ama o trabalho. Ela é muito carinhosa, assim como você. Mas eu nem sei explicar a emoção que senti logo que te vi. Admirei sua amizade pela Alessandra, li os relatos da Brenda e senti meu coração pulsar mais forte como sei que pulsa os de vocês com toda esta fonte de amor ágape. Na existem tantas amizades como as de vocês. Isto é lindo. Carla, eu tô escrevendo e chorando, assim como li pessoas comentarem neste blog dizendo: peraí que eu tô chorando... Até passeei por outros blogs e achei um que é show: AS LINHAS DO MEU MUNDO, não deixe de ler. Têm outros também: DIÁRIO DA CAROL, ALINE,NICOLY, MALU & LEVI. Cada história mais linda que a outra. Sei que você tá ocupada e que não dá pra vir aqui, mas eu não temino o ano sem te ver. TE AAMOOOOO MINHA MÃEZINHA CARLA!!! Vou te sufocar com meus abraços e o Biel vai ter que te dividir comigo pelo menos quando eu estiver aí. A PAZ DO SENHOR, MINHA AMADA.
- Sua mãe chorou quando leu isto.
- Confesso que me dá um ciúme, mas é bom ser amado assim. Ah, pai, peraí que a Natalinha tá falando comigo no Messenger.
Natalinha diz:
Oi Biel!
Biel diz:
Oi, tudo bem?
Natalinha diz:
Tudo e vc?
Biel diz:
Tudo bem. Vc vem aqui?
Natalinha diz:
Vou sim, vou passar na minha mãe antes, mas passo aí sim
Biel diz:
O blog tá show, né?
Natalinha diz:
É cara. Sabe que eu não canso de ler, volto aos capítulos da 1ª parte, choro de emoção. Parece que tá acontecendo naquele momento.
Biel diz:
É mesmo.
- Biel! Vem almoçar, filho! – minha mãe chamou
- Já vou, mãe!
Biel diz:
Vou almoçar, quando der eu volto.
Natalinha diz:
Falou, vou ler mais por aqui, a paz do Senhor!
Biel diz:
A paz, bye!
Natalinha diz:
Bye!