DE GRAÇA RECEBESTES, DE GRAÇA DAI – BETO
- Beth, eu fui usuário de drogas. Durante um período eu não usava frequentemente, mas foi num Réveillon que o vício tomou conta de mim. Sabe aqueles “amigos” que aparecem pra zoar?
- Sei. Como os que apareceram pra que o Jonas fizesse o que fez.
- Pois é. Naquela época eu namorava a Alessandra e ela tava comigo rompendo o ano na praia de Copacabana. Perdi completamente a noção das coisas, do respeito. Magoei demais minha namorada, mas felizmente em conseqüência disso ganhei uma grande amiga e eterna irmã em Cristo. Eu tive uma overdose, fui parar no hospital, minha irmã segurou a barra porque meus pais estavam fora. Um amigo meu Alex chamou a Alessandra e ela assim que soube foi correndo pro hospital. Ela já era de Deus, só faltava declarar isso. Ela foi muito boa pra mim. Lembro como se fosse hoje quando foi me visitar:
- Você deu um susto na gente. – ela disse
- Lessandra... – eu quase não conseguia falar, chorava demais.
- Beto, que é isso, cara, reage. Não se entrega.
- Eu... achei que cê nem quisesse mais ver minha cara.
- Beto, eu tô aqui como amiga. Eu perdôo tua fraqueza. Claro que não gostei nada quando te vi tascar um beijo na garota daquela turma na praia, mas isso me fez ver que não devemos nos enganar. Quero ser sua amiga, uma amiga fiel, que sempre vai desejar o melhor pra você.
- Eu vacilei muito contigo.
- Beto, você vacilou como namorado, mas em parte a culpa é minha. Eu também usei você, a gente não se ama. O que você sente por mim é atração, desejo. Nós vamos lucrar muito mais sendo amigos.
- Eu sei... Você soube ser fiel como namorada, mesmo sem me amar.
- E posso amar muito mais você como amigo. Eu quero o seu bem, sua irmã tá muito preocupada com você. Sua recuperação é pra você mesmo, depois pra sua família, pros seus amigos verdadeiros, não aquela turma que só aparece pra te levar pro mesmo buraco que eles, mas amigos como o Alex, que ligou pra mim, preocupadíssimo contigo. Eu fico muito triste vendo pessoas que querem se destruir e destruir o próximo. Cara, se acontece alguma coisa com a Brenda e com a Carla, o mundo desmorona pra mim, é pior do que se fosse comigo. Toma cuidado com suas companhias, Beto. Você precisa de ajuda, mas tem que querer.
- Eu sei... Eu... Eu quero Lessandra. – eu não agüentei e chorei muito mais
- Tá, Beto, tenha isso em mente sempre. – Alessandra se chegou a me abraçou - Eu vou estar perto se precisar de mim.
Beth ouviu meu relato com atenção.
- Alessandra sempre foi uma boa pessoa. Eu disse - Deus já tinha escolhido a vida dela pra abençoar os outros, só ela ainda não entendia que tinha um amor muito grande pelo próximo.
- Gosto dela como uma mãe. – Beth disse
- Quando ela aceitou Jesus aprimorou os dons que já tinha. Eu fiquei um tempo trabalhando em São Paulo, depois o Allan me convidou pra assistir os treinos pros campeonatos de surf aqui em Floripa. Fiquei maravilhado como ele liderava ainda muito jovem o grupo. Como tinha prazer em ensinar, com amor, dedicação e usando como base a palavra de Deus. Depois disso, pra ir à igreja foi rápido. Assisti às reuniões de cura de dependência química e emocional. Antes disto eu já não procurava mais ninguém daquele pessoal que me botava pra baixo, mas sabia que algo me faltava. Não conseguia levar relacionamentos adiante e também não encontrava uma mulher que me completasse, não tinha a direção de Deus. Quando fui à reunião da igreja, um dos temas mais abordados foi co-dependencia, pessoas que dependem das outras, mas na realidade não se amam. Leram a passagem: E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele. (Gênesis 2: 18). Eu ainda não entendia que não ser só não era simplesmente pegar a primeira mulher que aparecesse. Passava por estágios de solidão, eventualmente bebia e depois ficava deprimido. Minha irmã segurou barras, ia me ver em São Paulo. Quando voltei ao Rio, me sentia ainda perdido. Fiquei liberto completamente depois que aceitei Jesus. Hoje eu faço parte deste ministério de libertação.
- Você faz reuniões na sua igreja?
- Vou ficar aqui mais alguns dias e presidir uma reunião no início desta semana.
- Pôxa, o Jonas tinha que ir!
- A gente consegue levá-lo. “Não temas, crê somente.” (Marcos 5: 36 - b)
- Beto, aquele garoto, o Ricardo, foi dedo duro, será que isso também não vai ser avaliado? Como é que ele conseguiu o vídeo com o Jonas puxando erva?
- É uma questão para avaliar mesmo. Allan vai saber fazer isso.
Pouco depois de falar comigo Beth foi chamada pelos pais pra ir ao hospital. Jonas queria falar com ela. Logo que voltou, me procurou:
- Beto, amanhã o Jonas sai do hospital e eu o convenci a ir à reunião.
- Não foi você, meu bem, foi O Espírito Santo de Deus.
- É mesmo, Beto, ‘brigada. – Beth em sinal de respeito deu um beijo na minha mão. Eu fiquei comovido e dei-lhe um abraço.
- Você é mais uma filhinha que eu ganhei aqui.
- Eu sei que você é pai de muitos que foram recuperados e Jonas vai ser mais um filho que você vai ganhar pra Jesus.
- Com certeza.
Jonas foi assistir à reunião que presidi. A palavra que dei veio como um raio à minha mente e impactou muitos, inclusive os que estavam lá pela primeira vez. Cada participante leu um versículo e justamente na vez de Jonas, ele leu:
- “E o mestre do navio chegou-se a ele, e disse-lhe: Que tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus; talvez assim ele se lembre de nós para que não pereçamos” (Jonas 1: 6)
Parecia que ele se dividiu em dois quando leu. Com certeza o texto foi para ele. A expressão de seu rosto dizia tudo. Foi como se a razão o despertasse. Perguntei se alguém queria analisar o texto lido e poucos falaram. Mas depois na segunda parte, quando dei 10 minutos para que cada um desse o seu depoimento eu percebi o impacto de cada um, inclusive do Ricardo, que confessou:
- Eu tava afastado da igreja. Fiquei com raiva de muita coisa que aconteceu na minha família. Não quero falar muito sobre assuntos mais íntimos, só quero pedir perdão ao Jonas e embora ele tenha feito a coisa errada, eu errei também por que armei. Eu pedi pra que o Marcelo oferecesse o cigarro pra ele. Por isto mesmo, não mereço estar aqui. Jonas sai, mas eu também.
Jonas olhou para Ricardo espantado, pois não esperava pela confissão. Logo depois pediu a vez e disse:
- Pode ter sido armado, mas eu fui fraco. Eu... Tô muito envergonhado. Me comportei de uma maneira horrível, quis chamar a atenção. É como tá no texto. Eu tumultuei a vida da minha família, criei uma tempestade por causa da minha desobediência.
Gostei da sinceridade dele e senti em seu olhar a confirmação do seu arrependimento.
- Você está entre amigos, Jonas. Já reconheceu o erro e mesmo que não possa entrar assim como o Ricardo, poderá ter muitas outras oportunidades. Deus já te perdoou. Agora volte-se pra Ele. Deixa Jesus tomar conta inteiramente da sua vida.
Jonas pediu perdão a todos os familiares. A bonança veio depois daquela grande tempestade. Os pais dele pouco depois daquela reunião vieram a mim:
- Nós queremos te agradecer. – o pai dele disse primeiro
- É eu nem imaginava como tudo o que houve poderia nos fazer pensar e reconstruir nossas vidas. – a mãe dele concordou
- Deus nunca faz menos do que promete, mas frequentemente mais do que prometeu. – eu afirmei
- É mesmo. – o pai de Jonas olhou pra esposa com um olhar de confirmação
- Pelo que vejo vocês estão se entendendo bem melhor. – constatei ao ver os dois abraçando-se
- Eu quis me auto-afirmar e coloquei toda o meu intelecto, todo o meu conhecimento de psicologia acima de Deus, mas assim que vi como a Beth ficou depois da discussão com o Jonas, dizendo que precisava de um tempo pra pensar sozinha, aproveitei pra fazer o mesmo e refleti muito. Refleti mais ainda depois de ver o Jonas chorando no hospital. Ele disse até que queria morrer.
- O Jonas da Bíblia também disse isto: “Peço-te, pois, ó SENHOR, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.” (Jonas 4: 3) Vê como a palavra se torna viva? Ele teve revolta, mas Deus também falou com ele como na passagem: “Fazes bem que assim te ires”? (Jonas 4: 4). Deus sempre nos traz de volta à razão, basta que ouçamos a voz d’Ele.
- Nós vimos nosso filho desesperado, nossa filha triste, mas sabe quem ficou mais centrado, lendo a palavra, com as mãozinhas juntas em oração, quietinho, ajoelhado? O nosso caçulinha, o Lucas. A fé dele nos fez ver o quanto nós estávamos sendo negligentes, pensando em nós mesmos, achando que só pelo fato de estarmos aqui estávamos cumprindo nosso dever como pais, não querendo nem pensar na possibilidade de uma reconciliação. – o pai de Jonas disse
- Depois da tempestade, veio a bonança. Houve uma demolição, mas nós vamos reconstruir uma casa que vai ser uma fortaleza. - a mãe de Jonas olhou sorrindo para o marido.
- Em nome de Jesus. – o pai de Jonas deu um beijo carinhoso no rosto da esposa e se abraçaram.
Ricardo também se reconciliou com Deus e a palavra se cumpriu: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. (II Coríntios 5: 17).
Mais VIDAS SEPARADAS para Deus. Como é maravilhoso ver que quando tudo parece perdido Deus mostra que foi a ansiedade que nos fez pensar assim. O tempo de Deus não é nosso tempo. Em relação a família de Jonas é como está na passagem: tempo de derrubar, e tempo de edificar; (Eclesiastes 3 : 3-b). Todos precisaram daquela desestruturação para reestruturar suas vidas podendo dizer assim daí pra frente: E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. (Mateus 7: 25)
Eu fiquei mais uma vez realizado ao ver se cumprir a palavra da promessa de Deus e colocar em prática o versículo: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”. (Filipenses 4: 9)
Não parem de acompanhar este blog. Jonas ainda vai contar nele o que Deus fez na sua vida.
Diálogo, ou quase isso.
Há 13 anos