sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CAPÍTULO II

MEMÓRIAS DE CARLA
Fiquei logo com uma cor. Herança étnica de família que tem mistura de índios, negros. Eu me “achava”, era mais uma garota de Ipanema. Naquele dia eu festejava com minhas amigas Brenda e Alessandra a passagem para a vida quase adulta. Tínhamos 17 pra 18 anos. Eu, com meu corpo violão, sempre malhando com Alessandra, sabia que despertava a cobiça de muitos garotões de Ipanema. Eu namorava e esnobava. Mas naquele dia, curiosamente nós três estávamos sozinhas. Parece que foi pra não sentir uma perda maior. Tudo era maravilhoso naquele dia de sol. Mas nem sempre tudo é como esperamos. Cheguei em casa e meu pai que estava no horário do almoço, falou:
- Filha, sua avó faleceu.
- Pai... Ela tava muito doente. Tô triste, mas já esperava.
- Eu também. Pelo menos deixou a casa. Ela e seu avô trabalharam muito e puderam deixar pra gente morar. Agora que tô me aposentando, vamos morar lá.
- Quando pai?! – perguntei assustada
- Assim que eu ajeitar todos os documentos. Deve dar menos de um mês.
- Pai! Eu nasci e fui criada em Ipanema, vou pra zona Oeste?!
- Vai! Só por que nasceu em Ipanema é melhor do que os outros?
- Pôxa pai! Minhas amigas moram aqui. Vou morar longe da Alessandra e da Brenda!
- Elas vão lá quando quiserem.
- Mamãe vai sair da casa da Alessandra?
- Ela vai passar a fazer salgados e doces pra festas lá.
- Pai, eu ia começar a trabalhar numa academia aqui. Passei pra faculdade.
- Lá você encontra trabalho também minha filha! Pode fazer faculdade e trabalhar, a gente dá um jeito. Mania de ver problema em tudo!
Fui pro meu quarto e chorei muito. O mundo estava acabando. Mas depois pensei que meu pai poderia ter razão. Ele já tinha trabalhado tanto tempo, minha mãe também. Eu já havia ido tantas vezes à casa da minha avó em Paciência e lá não era tão ruim. Lembrei de uma vizinha do prédio contando à mãe da Alessandra que quando o marido separou-se dela, disse com raiva que ela não moraria em Ipanema, mas sim em Paciência, considerando o lugar o fim do mundo. Minha maior tristeza era saber que não ia acordar e descer pro apartamento da Alessandra, depois pro da Brenda e iríamos juntas pra praia. O fim de um ciclo em minha vida. Olhei-me no espelho e vi meus olhos grandes e negros vermelhos de chorar, meus cabelos pretos e cacheados até os ombros embaraçados e pensei que era hora de tomar um banho, tirar a areia da praia e me preparar pros meus últimos dias de verão em Ipanema. Sabia que ia levar algum tempo pra me acostumar, mas hoje eu sei que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Eclesiastes 3: 1)

7 comentários:

  1. Temos que aprender com Paulo. Viver no pouco e no muito.
    Tô gostando!

    ResponderExcluir
  2. Gostei do primeiro e do segundo capítulo,parabéns,bjss

    ResponderExcluir
  3. Obrigado esteja presente aqui e se for orkutante entre na comu

    ResponderExcluir
  4. Estou achando interessante, bem verdade que já não sou adolescente, rsrsr... percebo as citações bíblicas, gosto disso! 12 de janeiro de 2010. 23:48

    ResponderExcluir
  5. Nossa será que todas vão se mudar?
    kkk
    Mas to gostando.

    ResponderExcluir
  6. olha eu aqui... nossa a avó faleceu e ela vai deixar ipanema?

    ResponderExcluir