DEPOIS DA ADAPTAÇÃO, O REENCONTRO – BRENDA
As coisas começavam a melhorar. Meu pai investiu um dinheiro numa micro-empresa de artigos variados. Um pouco de tudo. Um primo, Otávio, estava querendo uma pessoa de confiança e dividiu os gastos com ele. A loja foi batizada de MULTI-ÚTIL, pois vendia de tudo que fosse utilidade para o lar: relógios de parede, pequenos, maquininhas fotográficas, lâmpadas, líquidos de limpeza para vídeos, artigos de limpeza, caixinhas, clips de plástico coloridos. Lá começou a ser meu pequeno paraíso, pois eu usava o telefone para falar com Alessandra e Carla, além de ajudar. Tomei uma decisão: tranquei a faculdade por aquele semestre até as finanças se estabilizarem. Meu pai a princípio não gostou, mas expliquei que mesmo a faculdade sendo gratuita, envolvia gastos e era melhor eu guardar um pouco mais de dinheiro.
Fiquei sendo uma faz tudo. Minha mãe se divertia com minha estabanação inicial, meu pai também. Estávamos bem, apesar da mudança de bairro, de zona, a Penha passou a ser mais atraente. Aprendi a lidar com o público, atendia sempre com simpatia, fazia propaganda dos utensílios e modéstia à parte, ninguém saía sem ter passado por mim sem comprar. Alguns clientes começaram a vir mais pra conversar comigo e mesmo assim, sempre se lembravam de levar alguma coisa.
Depois de mais de dois meses de adaptação e de separação, finalmente um feriado pra rever minhas almas gêmeas! Que saudades! Quantas novidades pra contar, pra ouvir. Marcamos o encontro na porta do prédio de Alessandra. Cheguei e fiquei a olhar com nostalgia. Quantas lembranças, quantos bons momentos passamos descendo e subindo naquele prédio. Quantas confissões, quantos desejos compartilhados. Agora íamos nos ver depois de um tempo que parecia uma eternidade. Interfonei e Alessandra desceu. Abracei-a daquele jeito apertado como quem sufoca a pessoa de tão sufocado que está pela falta que sente dela. Esperamos Carla que demorou um pouco. Eu e Alessandra ficamos de papo, ela disse que tudo estava calmo, já havia falado com o pai. Ela o veria regularmente e sua mãe estava bem, voltou a fotografar em festas, casamentos e ganhou dinheiro também fazendo fotos de paisagens pra revistas. Carla chegou. Abraço a três. Quanta emoção, como a gente chorou! De saudade, de alegria. Curtimos demais aquele sol de outono com restos de verão.
- Gente, que saudade de Ipa! – eu vibrava apreciando o sol, abrindo os braços naquela imensidão
- Eu também. – Carla falou com menos entusiasmo
- Pensei que você estivesse com mais dificuldade de aceitar a nova moradia. Falou tão sem entusiasmo. – Alessandra notou
- Não gente, eu tava mesmo a fim de curtir este sol, mas sabe, até que eu tô me adaptando mais rápido do que pensava. – Carla admitiu.
- Que bom, Carla! Eu tô gostando de trabalhar na loja, fiquei feliz pelo meu pai ter um negócio dele, mas quando eu penso em Ipanema... Ai... dá uma saudade...
- Eu a princípio achei muito chato. Aqui tem muito mais movimento, mas as pessoas são mais chegadas lá do que aqui. – Carla comparou
- Na Penha eu diria que é um meio termo, mas a gente se conhece mais. – eu disse
- Lá em Paciência o pessoal é mais solícito. Só acho que tem uma gente assim, confiada demais, aqueles que moram ao lado já amanhecem no portão da gente. – Carla analisou os prós e contra
- Tudo tem seu preço. – eu disse. – Eu tô feliz com a minha clientela. Tô fazendo sucesso.
- Pois é, né, “Garota da Penha!” – Alessandra brincou
- E eu agora sou a “Garota de Paciência!” – Carla aproveitou o ensejo.
- Olha, não vai ficar convencida, mas acho que ‘cê deve estar sendo vista como a “poderosa” de Paciência – eu enfatizei.
- Ah, nem tanto... – ela sorriu ficando mais corada pela minha ênfase do que pelo sol, que já estava meio opaco.
- Eu acho que pro pessoal de lá você deve ser uma novidade, Carla. – Alessandra analisou.
- Não, gente, sem falsa modéstia, tem garotas lá muito bonitas, muito mais do que eu, inclusive muitas delas freqüentadoras da academia.
- Não diga que ninguém olhou pra você que eu não acredito. – Alessandra falou com um olhar malicioso
- Ah, claro que os homens olham, mas eu fico na minha. Acho que eu não encontrei ainda o verdadeiro amor. – Carla comentou, sem no entanto lamentar, simplesmente chegando a uma constatação.
- Eu também não. – Alessandra se identificou
- Nem eu. – eu por fim concordei.
- Nenhuma de nós. – Alessandra concluiu.
- Apesar de ter namorado alguns caras, a gente não sente a menor falta, né Lessandra? – Carla analisou
- Gente, eu tive alguns namorados, mas passaram. – eu lembrei.
- Estranho, a gente pouco fala deles, não tiveram realmente importância pra gente. – Alessandra afirmava, porém questionava a si própria o porquê.
- Por que será? – eu então também questionei
- Acho que somos muito exigentes. – Carla sintetizou
- Concordo. – eu disse
Conversamos mais sobre nós, sobre nossas mudanças de vida, nossas expectativas e chegou a hora de ir embora.
- E aí gente, vamos voltar amanhã? – eu sugeri
- Querida, tá esquecendo que vou trabalhar? – Carla lembrou
- Ai! – bati na cabeça rindo como que refrescando a memória.
- Doces tempos de escola, dos “enforcamentos” de feriados. – Alessandra falou saudosa.
- É mesmo, eu também...meu pai até me liberaria da loja, mas Assim que der repetimos a dose. – eu resolvi, deixando pra lá qualquer lamentação.
Fomos pro ponto e Carla esperou um ônibus pro Centro, pra depois pegar outro pra Santa Cruz, que passava antes por Paciência. Ela ainda mantinha alto seu ibope, pois um rapaz sentado num banquinho de pedra também esperando ônibus ofereceu pra ela o lugar. Despedimo-nos de Carla e Alessandra insistiu que eu comesse em sua casa. Ofereceu antes à Carla que não aceitou devido ao trajeto mais longo, pois queria chegar cedo ainda em casa. Matei as saudades de todos, encontrei pessoas conhecidas do prédio. Depois fui à pé até Copacabana com Alessandra que fez questão de ir comigo, pra pegar um ônibus só pra Penha. Despedimo-nos e ficamos de nos ver em breve.
Duas semanas depois, estava eu chegando em casa sem pensar em nada. A maior parte do tempo naquele dia eu fiquei na loja. Meu pai disse que tinha muito movimento, entrava e saía muito apressado. Papai disse que mamãe estava fazendo uma faxina completa e que eu almoçasse na pensão ao lado. Ao abrir a porta encontrei tudo escuro. De repente, acendem as luzes e o que vejo: a sala ornamentada um bolo enorme e Alessandra, sua mãe, Carla e seus pais cantando os parabéns pra você. Eu não sabia se chorava ou se sorria. Jacyra ajudou minha mãe a fazer tudo. Foi o aniversário mais maravilhoso que tive. Pena que durou pouco, pois todos iam pra longe. Lúcia estava de carro e fez questão de levar Carla e seus pais para casa.
- Agora vocês é que me devem uma visita lá em Paciência. – Carla cobrou antes de ir
- É seu aniversário tá chegando. – lembrei
- O meu é em julho, hein? – Alessandra apressou-se em lembrar-nos.
Mais uma despedida, mais abraços e algumas lágrimas derramadas, mas em breve estaríamos novamente juntas.
Diálogo, ou quase isso.
Há 13 anos
Olá meu querido amigo... poxa... parabéns...
ResponderExcluirEstá maravilhoso, excelente, realmente a historia cativou, li sem parar do primeiro ao setimo capitulo...
e ja estou ansioso pelo proximo...
que Deus continue te abençoando e te iluminando assim...
parabéns... adorei
Amém, obrigado. Muito breve postarei o 8ºcapítulo.A paz do Senhor.
ResponderExcluirVinicius, além da minha neta Leticia, agora estou contando a estória também para a Natalia (12 anos).
ResponderExcluirElas estão amando e anciosas pelos próximos capítulos.
Um abraço!
Muito breve estarei postando o 8º. Fico feliz pela história despertar o interesse de diferentes gerações.
ResponderExcluirA Brenda está se mostrando bem madura com todas as mudanças em sua vida.
ResponderExcluirA história está muito boa!
São muito importantes estas observações, assim eu vejo que passo exatamente o perfil da personagem. Brenda é mesmo a mais madura. Tem o melhor relacionamento em família e representa um suporte para Alessandra e Carla. Pessoa solícita, ativa e disposta a ajudar às pessoas, além de grata aos pais pelo esforço deles por ela.
ResponderExcluirObs: Repostei este comentário depois de corigir sua redação.
P.S. Corrigir. A pressa é a inimiga da perfeição.
ResponderExcluirno momento, quantas alegrias!!! prefiro fazer o comentário do perfil dos personagens mais para frente, mas estou adorando a história.
ResponderExcluir13 de janeiro de 2010 01:42
Que bom, as amigas matando a saudade.
ResponderExcluirA história ta cada vez melhor.
Muito bom!!! Que amizade linda dessas meninas,grande exemplo de fidelidade, independente de classes sociais.
ResponderExcluirFinalmente o reencontro!
ResponderExcluirMudança é realmente muito ruim, mais depois que se acostuma é bom,difícil é voltar...
ResponderExcluirEstou gostando muito da estória!