sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CAPÍTULO IX

MAIS UMA SURPRESA – CARLA
Eu curtia o trabalho, os novos amigos. Tinha pretendentes, sim, mas pra dizer a verdade, eu não gostava mesmo de garotões. Apesar de que os da Zona Oeste eram diferentes, mais família. Mas tinham também uns malandros, que se juntavam lá na favela próxima com atitudes suspeitas. Pelo menos a violência naquela época, embora já fosse grande, não se comparava com a de hoje. Ás vezes havia eventos, festas na academia em fins de semana e eu ia pra ajudar e participar. Havia um espaço grande, tinham uns shows populares. Embora estivesse fazendo novas amizades, sentia falta de sair com Alessandra e Brenda.
Começava a Copa do Mundo e eu nem pensava em outra coisa. Uma amiga, a Joyce, chamou pra eu ir à casa dela no sábado. Ficamos conversando, víamos na TV os comentários sobre a Copa, o jogo. Lembro como se fosse hoje o gol de Sócrates aos 17 do 1º tempo. Vimos o jogo ate o fim. Ficamos conversando um pouco mais, depois vimos o movimento na rua. O brasileiro já conta com a vitória bem antes do tempo. A rua era uma agitação só. Mais tarde, fomos pra minha casa. Tava tão ligada na Copa que até esqueci que dia era. Quando cheguei em casa, tudo escuro, o maior silêncio. De repente acendem as luzes e ouço os “parabéns pra você.” A sala estava decorada de ornamentos com símbolos da Copa. Como não poderia deixar de ser, estavam lá Alessandra e Brenda, que vieram bem mais cedo pois o trânsito estava difícil. Minha mãe combinou com Joyce que me convidasse enquanto ela preparava tudo ajudada por Alessandra, Brenda e suas respectivas mães. Chorei de felicidade e joguei-me nos braços de Alessandra e Brenda.
- Gente...eu amo vocês! Vocês são o meu maior presente! - eu disse
Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Se fosse o último, poderia dizer que foi o mais feliz, mas outros mais felizes estariam reservados e o mais feliz, contarei depois. Tentei matar mais uma vez as saudades de Alessandra e Brenda. Já ficava saudosa antes de me despedir, pois sabia que ainda demoraria um novo reencontro. Devido ao movimento e a ter que dar atenção a outros convidados, esperamos um pouco pra conversar juntas, só nós três, mas conseguimos colocar alguns assuntos em dia.
- Carla, 18 aninhos, hein? – Brenda olhou-me como dizendo que era idade de ter juízo.
- É... – fiquei reticente imaginando se teria mesmo
- Você tá muito linda, amiga. – Alessandra elogiou
- Que é isso, linda é você. – eu disse com sinceridade, pois sempre achei Alessandra muito mais bonita do que eu
- Carla, o que importa é a beleza interior. – Brenda filosofou
- Tá, mas não quer dizer que não possa ser combinada com a exterior – eu acrescentei
- Acho que eu entendo o que a Brenda quer dizer, a beleza do ser humano que tá difícil de encontrar. – Alessandra refletiu
- Eu acho que eu procuro esta beleza também. – comecei a desenvolver um pensamento em cima do assunto
- Eu até agora não amei ninguém. – Alessandra constatou
- E o garoto com quem cê tá saindo? – Brenda perguntou
- É mesmo, ele não quis vir? – eu lembrei
- Não, eu é que disse que era uma reunião muito íntima e ele entendeu. Acho que não ia gostar de vir.
- Você não quer que vire coisa séria, né? – Brenda afirmou
- É, não mesmo. – Alessandra admitiu – Gosto de estar com ele, de sair com ele, mas como todos os outros que eu tive, não é “o cara”.
- Lessandra, eu ainda também não encontrei como você diz, “o cara”, mas eu acho que a gente deve se preservar. – Brenda opinou
- Preservar o que Brenda? O que eu tinha que perder, já perdi mesmo!
- Mas não é assim, Lessandra, você já teve experiência, mas parece que só quer se preencher fisicamente, não afetivamente. – Brenda insistiu
- Ah, sei lá, acho que tô ficando assim, prática. – Alessandra justificou-se
- Eu tô falando porque quero o seu bem. Você já pensou na possibilidade de começar um relacionamento sem querer compromisso e vir a gostar verdadeiramente do cara e o cara te dá o fora, como você vai se sentir?
- Eu imagino que isso possa acontecer, por isso não convidei o Allan pra vir hoje.
- Tá Alessandra, mas a Brenda pode ter razão e tá avisando por amor a você, que deve preservar seus sentimentos. – também opinei
- Gente, é cedo pra decidir, mas eu não acho que vá me casar. – Alessandra falou discrente
- Eu quero me preservar totalmente até meu casamento. – Brenda colocou-se
- Já eu quero esperar o momento certo. – expus minha opção
- O que é o momento certo? – Brenda questionou
- Ah, sei lá...quando aparecer o cara certo, que eu goste de verdade e queira me entregar a ele. – respondi sem muita convicção
- Carla eu sou tua amiga e vou te alertar. Mesmo que o cara seja o certo, o momento pode não ser. – Brenda disse expressando zelo por mim.
- O que você quer dizer com isso? – perguntei, pois naquele momento não entendia sua preocupação.
- Fofinha, você é uma garota bonita, chama a atenção dos garotos daqui talvez mais do que chamava em Ipanema, pois lá a mentalidade é diferente e aqui você deve ser considerada uma princesa. Você foi criada com muito cuidado pelos seus pais. Aqui você tá se tornando adulta, tendo outro sistema de vida, trabalhando, saindo. O perigo taí. A liberdade que você tem ainda pode vir a te aprisionar.
- Ainda não tô entendendo. – insisti.
- Eu vou procurar ser mais clara, amiga. Você pode não saber usar sua liberdade e daí atrapalhar o seu momento. Você tem um lado muito maduro de ter responsabilidade, horários, tudo isso você aprendeu bem. Mas acho que nós três ainda não somos totalmente maduras pra relacionamentos afetivos. – Brenda analisou.
- Eu não me acho assim sem maturidade pra relacionamentos. Tô tomando cuidado com o meu com o Allan. Eu sei como fazer pra não me ferir nem ferir o outro. - Alessandra defendeu-se
- Desculpa, Lessandra, mas você já imaginou se ele neste momento não pode estar com outra? – Brenda intuiu
- Se estiver, azar! – Alessandra disse como se não se importasse, mas no íntimo deve ter se incomodado ao admitir a hipótese.
- Gente uma relação bem construída não pode se basear nesta frieza, neste medo de não se envolver, nesta distância. – Brenda continuou argumentando.
- Mas eu não gosto tanto assim dele. Não quero viver grudada nele. – Alessandra contra-argumentou
- Você tem medo de gostar de verdade. Você tá usando o cara e ele a você. – Brenda foi mais profunda em sua análise
- Ah, Brenda, não quero pensar nisso agora, não. Por que eu vou gostar? Pra sofrer? Olha só meus pais, separados depois de quase 20 anos de casamento. Tô a fim de curtir, de aproveitar a vida. – Alessandra insistiu em seu propósito
- Você pode olhar pra trás depois e se arrepender por não ter se dado a chance de ter o amor verdadeiro. – Brenda alertou
- Isso é muito bonito em romances! – Alessandra continuou discrente.
- Bom, não vou discutir. Cada um deve aprender com a sua experiência. – Brenda encerrou
- Ah, sei lá, gente...não acho que cê tenha razão Alessandra, acho que o amor existe, as pessoas é que ‘tão com medo de encontrar o amor, de viver o amor. – eu concluí.
- Eu quero ver você duas felizes, se eu falei não foi pra chatear, mas pra vocês pensarem e eu também. – Brenda sorriu para nós com sinceridade.
Pensei no que Brenda disse sobre relacionamentos naquela noite, depois que foram embora. Hoje sei o quanto foram proféticas suas palavras. Se eu tivesse refletido mais profundamente desde aquele momento, quantas coisas teriam sido diferentes na minha vida! Como Brenda já era sensata. A maior maturidade dela era justamente não se achar tão madura, mas ela sempre foi a mais madura de nós três. Um exemplo que nós não soubemos seguir, indo atrás do coração e não da razão. Mas “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17 : 9)

11 comentários:

  1. Que honra ser a primeira a comentar nesse cap! ^^
    Vc ta melhorando a cada cap, adorei a conversa delas, pareceu bem real...

    Desculpa pela demora, quero ler os outros...
    Fica na paz, Vnícius! ^^

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  2. Amém, irmá. Devido o interesse dos leitores me antecipei em postar este e muito em breve postarei o próximo. Amigas íntimas conversam sobre estas coisas e mais ainda, mas como você pode observar, a Brenda é a mais centrada, mais ajuizada. Procurei usar uma linguagem discreta. Obrigado pelo interesse e colaboração. Pode criar tópicos na comunidade também, se quiser. Há um lá que é sobre indicação de livros. Continue postando, a paz do Senhor.

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  3. Vinícius adorei esse capítulo. Mostrou bem o que cada uma das personagens pensam, e como decidem em levar a vida.
    Fica na paz!

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  4. Amém, irmã. Os comentários de todos vocês têm sido preciosos para mim e estimulam a postar mais rápido os próximos capítulos, que são assim revisados para uma melhor compreensão. O 10º capítulo está a caminho. Continue postando, A paz do Senhor.

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  5. A linha que separa a liberdade da promiscuidade é extremamente tênue.
    É aí que os jovens se perdem, e os pais não conseguem orientar/alertar os seus filhos, pois estão muito ocupados com as suas próprias vidas: não tenho tempo, trabalho demais, chego em casa e ainda tenho que arrumar tudo, etc. E por aí vão as desculpas.
    Resultado: os jovens estão se perdendo no caminho...

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  6. Obrigado pela observação o texto mostra consequências mais adiante. Espero estar passando com nitidez os problemas. (repostado)

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  7. Como sempre está muito bom.
    As vezes me pareço com a Brenda, fico dando uma de conselheira. kkkk

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  8. Mto boa essa abordagem, de grande valia. Creio que pode impactar muitos jovens.

    *Muito bem colocado o comentário da Carmen Eliza, concordo em absoluto.

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  9. Concordo o tema 1ª vez foi bem abordada assim como ~comportamento...

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  10. Que legal a a parte da surpresa!
    Adoro os versículos no final..

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  11. Nossa!!! Nesse capítulo deu para perceber bem a diferença e a maturidade de cada uma sobre relacionamentos.
    E no jeito dá escrita ficou legal quando a Carla reflete que ela deveria ter escutado Brenda, e fica um pequeno suspense, do que será que vai acontecer sobre seu futuro?
    Gostei!!! Faz refletir!!!

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