sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CAPÍTULO VIII

UM ANO DE MUDANÇAS – ALESSANDRA
1986, um ano de mudanças. Engraçado, 86, o inverso de 68, o ano que eu, Brenda e Carla nascemos. Nossas vidas mudaram muito naquele ano, mas o país também. O bendito plano cruzado do presidente Sarney. Tudo parecia mais barato, fui mais ao cinema, nos fins de semana saía de um e entrava noutro. Comecei a trabalhar na academia como recepcionista, já que Carla foi pra Paciência, o cargo estava vago. Uma garota ficou um tempo, mas não deu certo, não sei se foi demitida ou arranjou coisa melhor. Alberto, o amigo de meu pai e dono da academia sempre foi muito legal e ofereceu-me o emprego. Disse que queria alguém de confiança. Fiquei inicialmente em meio período. A faculdade era mais uma novidade, o trote foi até light – termo que não usávamos na época – uma aluna mais velha se fez passar por professora. Nos primeiros dias achei meio chato, mas depois reencontrei antigas colegas de colégio e comecei a me ambientar, formando minha turma particular. Ia de carona com minha mãe e voltava sempre com a Danielle, uma colega. Em breve eu faria minha auto-escola e meu pai me daria um carro. Eu sentia a falta dele. Ficava tanto tempo sem aparecer. Ligava pouco. Como tudo mudou.
Meus relacionamentos anteriores, foram coisas sem importância. Eu era a típica garota de Ipanema, inclusive na mentalidade. Enquanto minhas amigas Brenda e Carla se preservavam eu era a favor das experiências. Se eu soubesse naquele tempo o que sei agora... Mas a gente se contamina com os pensamentos que o mundo dita, quer se inserir no grupo que considera o certo. A geração 80 era muito mais liberada do que a da década anterior e eu não ia ficar atrás. Já não era pura desde os 16. Foi num camping pro qual Brenda e Carla não foram. Carla era mais presa e os pais não deixaram e Brenda não foi por decisão própria. Não importa falar quem foi e só me confidenciei com minhas amigas inseparáveis. Aconteceu. É a justificativa que todos damos. Aconteceu, nada! Eu quis que acontecesse, fiquei na cola do garoto, aticei e claro que sabia que ele ia querer provar que era homem, não ia ficar pra trás. Eu na época achei que comecei tarde, foi no verão de 85. Eu achava que não deveria permanecer pura até os 17. Teria que ser antes. Assim foi e como não se volta atrás, não poderia pegar a máquina do tempo “DE VOLTA PRO FUTURO”, aliás, título de um filme que assisti com Brenda e Carla. A vida não é absolutamente como nos filmes. É muito mais dramática. A minha seguia um curso normal, mas não nego a falta que me fazia um pai mais presente. Comecei a aceitar convites de rapazes, às vezes com mais uma turma, uma amiga ia com o namorado. Um rapaz que me chamava muito pra sair com a turma era o Allan. Alto, moreno, freqüentador assíduo da academia e surfista. A primeira vez que o vi, senti meu coração pular. Foi atração à primeira vista, não amor. Um sentimento um pouco mais intenso do que tive por outros rapazes. A gente começou a se conhecer, conversar, sair juntos, só nós dois. Íamos a bares, danceterias, músicas agitadas e lentas e daí num contato maior, rolou um beijo e do beijo o namoro e do namoro inevitavelmente o que todos os namorados faziam e como eu já não tinha nada a perder, fomos para o local adequado. Uma dentre tantas coincidências que a vida reserva ocorreu. Quem estava entrando também de carro, no mesmo lugar? Meu pai. O clima pesou, meu pai me fuzilava com o olhar. Allan a princípio não entendeu, mas eu logo disse:
- É meu pai, peraí.
Fui até meu pai e tentei conversar com ele.
- Eu não acredito! – ele falou alto
- Fala baixo, pai.
- Nunca poderia imaginar que encontraria minha filha aqui.
- E nem eu poderia imaginar que o meu pai um dia pudesse se separar da minha mãe, do jeito triste que foi. – falei baixo. Senti que ele ficou quebrado.
Os planos foram alterados. Saímos todos de lá e fomos prum bar pra conversar. Meu pai pediu que a moça que estava com ele esperasse no carro. Allan seguiu comigo e também ficou esperando no carro dele. Conversei com meu pai.
- Você mandou bem pesado hein, filha?
- Não foi pra te agredir, simplesmente disse a verdade.
- É...
- Você não aparece e a gente tinha que se encontrar assim?
- Isso não foi um encontro, foi uma triste constatação.
- Como assim?
- Constatei que minha menina, já é uma mulher.
- Há mais de um ano. Antes de fazer 17.
- Agora uma nova constatação: não conheço minha filha.
- Você nunca imaginou pai?
- Eu sei que as meninas hoje em dia começam cedo, mas nunca pensei que...
- Que com a sua filha pudesse ser assim também.
Meu pai custou a aceitar, mas o que fazer? O que dizer? Hoje eu gostaria de voltar atrás, sei que teria sido mais feliz. Aquela velha história: a carne é fraca. As mesmas justificativas, as frases feitas e as consequências que todos nós sofremos. Infelizmente, apesar de não ter rolado nada naquele dia, meu pai seguiu o rumo com a moça que estava e eu saí e fiquei conversando um pouco mais com Allan, que demonstrava mais a decepção de não ter acontecido. Eu me desculpei sem nem me tocar que numa relação o mais importante era uma compreensão mútua. Eu não o amava, tinha atração. Minha vontade era igual à dele. É claro que o desejo de transar esfriou naquele dia, mas não em outras oportunidades. Eu estava quente pro desejo, mas fria para o verdadeiro amor. Este, eu custei muito a encontrar. Estava se cumprindo na minha vida a palavra: E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. (Mateus 24: 12)

15 comentários:

  1. Sem palavras. Jovens sem consequência é o que mais vemos por aí.

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  2. É como o mundo dita: todas fazem, por que serei diferente? A garota que não teve experiência até uma certa idade é vista como fora do padrão do mundo e se acha inferior às outras se não começou logo.

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  3. A personagem Alessandra iniciou a vida sexual entre os 16/17 anos. Na vida real, as meninas de hoje estão iniciando ainda mais cedo, a partir de 12/13 anos (às vezes até antes). Isso é muito triste, pois as consequências são difíceis delas assimilarem nessa idade. Enfim, só mesmo Deus, em sua infinita misericórdia, é quem pode intervir em suas criaturas.

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  4. Gostei da observação. Como se vê nos anos 80 ainda esperavam um pouco mais, mesmo tendo a primeira experiência ainda cedo e com o passar do tempo, a faixa de idade foi decrescendo. De 17 para 16, 14 até chegar ao absurdo de 12/13, ou seja, mal saindo da infância, no início da adolescência. As mensagens televisivas, o incentivo à uma vida adulta quando ainda mal se chegou à adolescência, como se a puberdade fosse o sinal para começar uma vida sexual. Uma das consequências mais graves é a gravidez, além de doenças. Que esta história seja um alerta. Obrigado pela constante colaboração nos comentários, a paz do Senhor.

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  5. A propósito da observação sobre esta faixa etária absurda de iniciação sexual aos 12/13 anos, pergunto: Qual a orientação que os pais estão dando aos seus filhos? É difícil crer que meninas tenham atividade sexual nesta idade com o conhecimento dos pais, caso contrário, que noção esses pais tem de educação? Que limites impõem? É assustador.

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  6. Gostei do "debate" que se formou aqui!!
    Esse assunto é muito interessante... muito questionador!

    Hoje em dia se a garota chega até essa idade (17 anos), sem ter tido nada, é quase considerado um milagre... (infelizmente)

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  7. Vinicius,
    Na minha opinião, o que acontece é que o PAI está cada vez mais ausente da educação de seus filhos (muito trabalho/compromissos profissionais, etc.), e a MÃE, que também trabalha, quando chega em casa, vai enfrentar a jornada dupla de trabalho. Se a MÃE não trabalha, prefere que as crianças estejam na rua, para não "amolar". Com isso, a EDUCAÇÃO das crianças fica prejudicada, e os pais acham que é a Escola que tem que se encarregar disso. Só que a Escola se encarrega da educação pedagógica e convívio social. Os demais valores, se não forem aprendidos em casa, não é na Escola que a criança vai aprender. O resultado aí está: cada vez mais a violência nas Escolas estão aumentando, com risco para os alunos, professores e demais profissionais da Escola. O que fazer? Aí já é papo para continuar outra hora.
    Abraços fraternais!

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  8. Gostei da análise. O que deve haver é mais integração escola-família, pois a escola é uma extensão do lar. Há colégios que se interessam em complementar a educação, mas posicionam-se em relação ao seu papel, pois também educam para a sociedade, mas tudo tem que começar em casa.

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  9. Belo post esse.Reflete a verdadeira realidade das meninas já naquele tempo,e é uma história muito parecida com as de hoje.

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  10. Apesar de naquela época já estar mais claro que as meninas já não se guardavam para o casamento e se iniciavam muito cedo, essa situação ainda não havia chegado ao escancaramento a que chegou menos de 10 anos depois. Lembro de uma novela de 1994 na qual a mãe dava para a filha uma cama de casal para que ela tivesse relações com o namorado. No meu tempo de faculdade, em 1986, portanto época na qual se inicia esta estória e mesmo poucos anos depois, nem se cogitava uma atitude dessas com o conhecimento e conivência dos pais ou mesmo só da mãe.
    12 de Novembro de 2009 17:48 - Respostado por erro de digitação

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  11. ...se eu soubesse naquele tempo o que sei agora, faz lembrar a letra de uma música muito antiga.
    este capítulo nos mostra uma realidade ainda muito triste nos dias de hoje, mas vou seguir a história... estou gostando muito.
    13 de janeiro de 2010 01:53

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  12. Todos comentários aqui tem razão.
    A cada dia mais a iniquidade vem crescendo até no meio das pessoas crentes. Conheço varios jovens que se entregaram tão cedo e olha que são jovens compromissados com Deus.
    Louvo a Deus por ter me entregado a Cristo aos 9 anos e ter aproveitado minha infância, minha adolescência do modo certo e em plena juventude aguardo pela vontade de Deus ser cumprida em minha vida.

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  13. Infelizmente o mundo ainda dita...
    Vou adiante, está mto bom!

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  14. Pois é... concordo com o colega do 1º coment: sem palavras...

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  15. O texto fala muito da realidade de hoje...

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