segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CAPÍTULO XIII

EMOÇÕES – ALESSANDRA
Agora com um carro eu podia dar meus giros, levava uma galera de volta da faculdade. Eu me sentia a tal sob quatro rodas, mas no íntimo, sentia que alguma coisa me faltava e eu não sabia o que era. Apesar da minha relação aberta com Allan e de sempre afirmar que não queria um compromisso sério, que não pensava em casar, acho que não era bem assim. Eu não me permitia. Eu não queria sofrer como minha mãe. Achei um gesto nobre da parte dela convidar meu pai pro meu aniversário, mas o que mais me surpreendeu foi a volta por cima que ela deu, uma mulher de fibra, que retomou sem medo a profissão de fotógrafa. Um dia, ela propôs ao Alberto, o dono da academia o que já tinha falado comigo:
- O que você acha da Alessandra aparecer em alguma propaganda da sua academia? Tirei umas fotos boas dela com roupas de ginástica, eu posso mandar pra agências.
A idéia foi a partir das propagandas que a Carla fazia pra academia em que trabalhava. Mais uma coisa que tínhamos em comum. Porém, nós duas teríamos com o tempo outras coisas mais em comum. O tempo...ai o tempo...pelas experiências que tivemos, nós viríamos a pensar em como teríamos sido mais felizes na vida se não tivéssemos agido tanto por impulso. Mas felizmente, nossa amizade foi o bem mais precioso que conquistamos. Brenda sempre foi a mais ajuizada, eu a mais impulsiva e Carla que sempre foi mais presa, parecia estar se soltando mais e eu achava bom, mas não entendia nada da vida, nem o quanto isso poderia custar, tanto a ela quanto a mim. Nós, fracos seres humanos sabemos que podemos errar, mas preferimos quebrar a cara ao invés de ponderar, buscando os exemplos de pessoas mais maduras e aprender com elas. Por que a gente é tão teimosa e depois sofre tanto? Isso também eu e Carla tivemos em comum. Seguir nossas vontades, nossos desejos, alimentar os impulsos e não ouvir a voz da razão, só a da emoção. Emoções eram só o que eu naqueles meus 18 anos queria viver. Mas as emoções também custam caro. Eu brincava com os meus sentimentos e com os dos outros. A vida traz estas ironias que a gente só percebe quando leva uma grande bofetada. Foi o que eu senti num fim de semana em que o Allan disse que tava cansado e que não queria sair. Assim, tudo pareceu aramado pra que eu começasse a apanhar e sentir a dor do que é ser usada. Mas e eu, será que não fazia o mesmo? Resolvi sair sozinha, dar uma caminhada por Ipanema e quando estou do outro lado da rua, quem vejo saindo de um bar? Allan. Quem tava com ele? Adriana, uma garota que se dizia minha amiga. É como falavam muito naquela época: “o castigo vem à cavalo”. Segui os dois, estavam conversando animadamente no bar. De lá, entraram na danceteria. Resolvi: vou até a danceteria. Entrei, tomei uns “tragos” pra me sentir com mais coragem. Muitos pares dançando e numa dança mais acelerada, quando Adriana que já tava alta e girava num passo de dança separou-se de Allan, eu entrei no meio.
- Oi! – eu disse num tom bem provocador olhando fixo pra ele.
Adriana ficou muda, de olhos arregalados. Eu a encarei também.
- Oi, Dri, continua a dança, cê tava tão inspirada.
- Pô, Lessandra, qual é? – Adriana resolveu me enfrentar
- Qual é pergunto eu sua...
- Sua o que?! Vai me xingar é?! Cê sempre disse que não tinha compromisso sério com ele!!
- Gente...vamos parar... – Allan tentou intervir
- Cala a boca seu galo garnizé! – falei pra ele – O assunto agora é entre mim e essa vadia que se dizia minha amiga!
- Ah! Essa é demais! – Adriana gritou – Você se acha santa é?
- Cala essa boca você também! Com tanto cara pra você sair, tinha que ser com ele?!
- Lessandra, a gente se gosta, eu ia te falar, mas... – Allan tentou explicar
- Mas teve peninha de mim? Isso não é papel de homem, tá? Se não me queria mais, podia ter me falado! Vocês homens são todos convencidos e iguais! “Se acham” por que malham em academia, querem ter um harém em volta, mas eu joguei limpo com você, não saí com nenhum outro, muito menos aceitei convite de alguém que fosse seu amigo!
- Que?! Que amigo meu deu em cima de você?!
- Não interessa! Agora que já tá com ela, faça bom proveito! – peguei Adriana e joguei em cima dele. Ela quis partir pra cima de mim, mas ele segurou. Beto, um “amigo” dele que tava lá querendo se dar bem, me pegou e me tirou de lá
- Me solta!! – eu gritei, mas ele continuou me segurando e falando bem manso comigo.
- Lessandra, vem comigo, cê não tá em condições de ficar aqui assim.
Mesmo resistindo acabei aceitando o cuidado do Beto comigo e fui embora com ele, que aliás foi amável demais comigo e...seria melhor que não tivesse sido tanto. Paramos num bar próximo e ele teve muita paciência, pois eu tava meio tonta, de pileque.
- Toma este café. – ele ofereceu com jeito, me olhando bem nos olhos.
- Não quero porcaria de café nenhum! – gritei com raiva, mas Beto continuou com paciência.
- Lessandra, você sempre disse que não queria um compromisso sério com o Allan, por que essa bronca?
- Minha bronca é pela mentira! Se ele não tava mais a fim, que jogasse aberto!
- Lessandra, por favor, toma o café. – Beto empurrou a xícara pra perto de mim e eu acabei aceitando.
- Hum...tá amargo! – reclamei.
- Precisa ser, pra passar a bebedeira. – Beto argumentou
Virei de uma vez só o café pra me ver livre. Fiz careta, até. Beto ficou calmo com o olhar fixo em mim.
- Desculpe o que eu vou perguntar, não leve a mal, mas cê sempre foi fiel? Nunca saiu com outro mesmo?
- Fui! Sempre fui sincera e se tivesse atração por outro e quisesse terminar com ele, eu diria!
- Mas, seja sincera, você nem sequer olhou pra outro?
Fiz uma pausa, abaixei a cabeça, depois olhei também fixo pro Beto, assim como ele olhava pra mim e respondi bem firme:
- Eu olhei pra outros, sim. Lá na academia o que não falta é homem bonito, mas eu gostava da companhia dele e mesmo atraída por outros, nunca deixei que crescesse algum sentimento em mim e sempre rejeitei cantadas, convites, que não faltaram e não foram poucos.
- Tá, mas agora pensa que cê tá livre pra partir pra outra, ou melhor, pra outro.
O olhar do Beto ficava cada vez mais penetrante, sedutor, as palavras ditas com um jeito manso, envolvente e assim, naquela mesma madrugada, botei em prática o dito popular: “Rei morto, rei posto!” Beto passava a ser naquele momento o meu rei e durante um tempo eu me sentiria uma rainha.

9 comentários:

  1. Já vi tantas histórias como essa na faculdade.
    Bem real.
    A paz!

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  2. Essa é a Alessandra que nós conhecemos... :P
    Já conheci tantas garotas assim... =/

    Mas eu gosto dela, sabe. pelo menos ela é onesta, não finge ser o que não é!!! [eu gosto de pessoas assim]

    O que sera que vai acontecer com ela e com o Beto?
    Quero saber!! ;)

    Vinícius, serio! to adorando a sua história! =D

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  3. O melhor dessa estória é que conhecemos pessoas na vida real vivendo os mesmos conflitos. Eu mesma, quando mais jovem, levei a minha cota de bofetadas da vida. Me desviei da Igreja e decidi "curtir" a vida. Doce engano. Só o que se consegue é causar dor em outras pessoas, mas as consequências quem sofre somos nós mesmos. Quando voltei para Jesus, Ele curou minhas feridas e me restaurou.
    Estou anciosa pela continuação...
    Graça e Paz a todos!

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  4. O que parece liberdade, na realidade é uma grande prisão.

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  5. Apesar de impulsiva e não querer compromisso sério, Alessandra não engana e nem gosta de ser enganada.

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  6. Por mais errada que Alessandra seja ela é sincera. E sinceridade é uma virtude admiravel.

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  7. Aff... vou adiante... gosto dela! Espero que não esteja entrando numa gelada.

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  8. Nossa!!! Que reviravolta... Uau, me surpreendi com a agitação dela... Reviravolta mesmo...hehehe

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