sábado, 7 de novembro de 2009

CAPÍTULO XXII

REVELAÇÕES – ALESSANDRA
Minha mãe chegou pouco depois que Brenda saiu. Eu já tinha tomado um banho e estava pronta pra me deitar. Abraçamo-nos desejando uma à outra um feliz 87. Carla dormia profundamente. Contei sobre o Beto, minha mãe lamentou, mas disse que há males que vem pra bem e isso seria um aviso pra começar o ano com o pé direito. “Bola pra frente, que aí vem gente!” Ela dizia. Era bom vê-la assim animada. Não guardava mais ressentimentos de meu pai e eles até conversavam amistosamente. Deu a volta por cima e estava ganhando dinheiro como fotógrafa free-lance. Na festa de réveillon ganhou em horas o que em outras ocasiões ganharia em meses. Estava progredindo e eu estava orgulhosa dela. Fomos deitar e deixamos o telefone na secretária eletrônica, abaixando a campainha. Antes deixei um recado na secretária de meu pai desejando-lhe feliz ano novo e avisando que não se preocupasse se ligasse e ninguém atendesse, pois estaríamos dormindo. Dormimos bastante e eu acordei por volta das 16:00. Chamei Carla que tava ainda grogue de sono e levei-a pra casa às 17:30. Fiquei na casa da Carla um pouco, conversando, matando as saudades dos seus pais e saí de lá por volta das 21:00. Telefonei da rua pro meu pai e como o encontrei em casa fui lá vê-lo. Cheguei pouco mais de meia noite em casa e minha mãe não tava. De tão cansada nem pensei em ouvir os recados na secretária eletrônica. Ainda chateada com o episódio do Beto no réveillon, fui trabalhar no dia seguinte pensando que poderia me aborrecer se ele aparecesse lá. Ele não apareceu e achei que foi por vergonha. Ouvi os recados na secretária eletrônica e não tinha nenhum muito importante e também nenhum dele. Chegou o sábado e eu não tive notícias dele, mas também não me esforcei pra saber, pois ele é que havia vacilado comigo, então ele que me procurasse.
No domingo fui à praia e quando voltei o dia ainda estava claro. Minha mãe saiu e eu esquentei uma comida. Depois ouvi os recados da secretária eletrônica e entre eles um me chamou muito a atenção: “Alessandra, sou eu, Alex, amigo do Beto, que saí com você e uma amiga sua, lembra? Por favor, me liga assim que puder”. No fim da mensagem ele deixava seu número de telefone e horário em que eu o encontraria em casa. Como liguei e ninguém atendeu, também deixei um recado na secretária eletrônica da casa dele e aguardei resposta. O telefone tocou um pouco depois quando eu tava terminando de tomar banho. Corri enrolada na toalha pra atender. Começou a gravação, mas eu peguei logo o telefone.
- Alô?
- Alessandra?
- Sim, é ela!
- É o Alex.
- Cara, o que houve? Aconteceu alguma coisa com o Beto? Eu não o vejo desde o réveillon.
- Pois é. Ele ficou sumido e só agora eu soube dele. Liguei pra irmã dele e ela disse que ele foi levado pro Miguel Couto, depois transferido pra outro hospital.
- Ele tá muito mal?
- Teve uma overdose.
- Meu Deus! Dá o endereço de onde ele tá, vou pra lá agora.
Corri pro hospital e soube que o Beto não corria risco de vida, mas o susto foi grande. A irmã dele tava lá, de plantão. Os pais ainda não sabiam, pois estavam fora. Acharam melhor esperar o perigo passar pra depois falar com eles. Meu sentimento passou da mágoa à compaixão depois que falei com a irmã dele, a Andréia.
- Pôxa, Andréia, que susto, hein?
- É. Obrigada por ter vindo.
- Cumé que foi isso? Ele já tava estranho no réveillon, soube que a partir daí ele sumiu.
- Pois é Alessandra. Ele teve uma recaída.
- Recaída?! Não tô entendendo. Ele bebia socialmente, não fazia cenas como a que eu vi.
- Pois é, mas, sabe aquele pessoal do vira virou? Gente que não tem mais o que fazer e aparece no caminho só pra ajudar a afundar os outros?
- Sei...
- Pois é. Meu irmão nunca se assumiu um alcoólatra nem um usuário de drogas, mas eventualmente agia como um. Ele até já bebeu com limites, mas com aquele pessoal em outros tempos extrapolou e justamente no réveillon reencontrou o grupo que ainda por cima tem gente que puxa erva, cheira e ele perdeu completamente a noção das coisas.
- Eu bem que senti cheiro de maconha na praia naquele dia, mas como não vi ninguém fumando e tinha muita gente, nem deu pra perceber se vinha de alguém que tava com ele.
- Eu não acho bom terminar o ano na praia. Sempre soube de coisas assim que acabaram mal. Ainda mais quando você não tá em família, com pessoas que gostam de bagunça. Pena que meus pais foram pra fora, se não ele passaria com eles, comigo. Eu me sinto responsável pelo meu irmão. Tinha 6 anos quando ele nasceu.
- Ele tá acordado?
- Não. Mas tá bem. Ficou um pouco agitado, mas depois deram calmante pra ele.
- Ele precisa seguir um tratamento, né?
- É, mas vai depender dele.
- Fala pra ele que não tô com raiva dele.
- Você volta aqui depois?
- Volto, mas como amiga. Não tô com estrutura pra continuar namorando um cara com esses problemas. Acho que posso fazer mais por ele oferecendo minha amizade. Não fica chateada comigo, mas é melhor assim.
- Tá, eu entendo. Acho que faria a mesma coisa no seu lugar. Agradeço muito Alessandra. Outra no seu lugar talvez não tivesse uma posição humana como a sua. Não vou esquecer seu gesto, querida.
Saí arrasada do hospital. Beto vacilou, mas era um cara legal. O que são as más companhias, como o ser humano é fraco! Eu pensei. Quando cheguei em casa conversei com minha mãe e ela me consolou.
- Dá um tempo em relacionamentos, minha filha, pensa um pouco no que você tá fazendo, na sua faculdade.
- Acho que eu vou dar um tempo mesmo, mãe. Se aparecer alguém legal, apareceu, mas vou mudar um pouco de ares. Tô pensando em ir mais pra Búzios nos fins de semana, meu pai disse que meu tio nem tem usado a casa e ele tem ido, me convidou pra ir.
- Então, filha, aproveita, vai e relaxa lá, coloca a cabeça no lugar.
Minha reação ao ocorrido foi uma resposta: eu não amava o Beto. Apesar de ter tentado investir numa relação melhor do que a que eu tinha com o Allan, não o amava. Com o Allan eu tinha até mais certeza de que não queria nada sério, mas foi meu orgulho que ficou ferido quando ele me trocou por outra. O Beto inicialmente foi uma válvula de escape, mas depois pensei que poderia aprender a gostar dele e como conseqüência depois vir a amá-lo. Eu quis cair fora, não tava disposta a enfrentar aquele problema. Pode ter parecido egoísmo da minha parte, mas pelo menos não fui insensível. Entendi que ele precisava de ajuda. Alguns dias depois fui visitá-lo e confirmei que não queria ser mais namorada dele, mas que ele teria em mim uma amiga fiel. Foi melhor assim. Analisando hoje vejo que minha atitude foi certa. Eu não era madura o suficiente para enfrentar uma situação daquelas. Amadurecimento e sofrimento andam lado a lado e eu tive que sofrer muito pra chegar até onde cheguei. Restou um saldo positivo, pois descobri como pode ser diferente e compensador amar um ser humano sem cobranças, com compreensão. Foi uma revelação pra mim, um crescimento. Crescer dói. Doeu, mas a ferida foi tratada, a dor passou. Como muitas outras feridas que com o tempo eu aprenderia a curar. Um amor muito grande tomou conta de mim e o que houve com o Beto foi uma introdução ao ensinamento que eu entenderia mais tarde: Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. (Gálatas 5 : 14)

12 comentários:

  1. GOSTEI!
    Estou gostando de ver o crescimento/amadurecimento da Alessandra!
    Vinicius, já estamos no Capítulo 22! Será que dá para você nos adiantar quantos capítulos tem esse texto? Assim dá para a gente ter uma idéia do andamento da estória.
    P.S.: Estava um dia atrasada na leitura dos capítulos. Acabei de ler o Capítulo 21 e deixei um "post" lá.
    Graça e Paz!

    ResponderExcluir
  2. Vou dizer na sua página em depoimentos, pra prender mais a atenção dos leitores.

    ResponderExcluir
  3. Crescer realmente dói. Ainda bem que passa, hehehe. Gostei, mas um capítulo excelente, cheios de reflexões.
    Paz!

    ResponderExcluir
  4. E assim que tenho confirmado meu objetivo pois o que escrevo é para que todos, inclusive eu reflitam.

    ResponderExcluir
  5. Até quem enfim conseguir acompanhar vcs!rs
    Comecei a ler depois por isso estava atrasada.Mas a história está melhor a cada dia qe passa.Parabéns Vinícius!

    ResponderExcluir
  6. Olá...

    Meu Amigo Vinícius... a historia está excelente...
    Nao vou comentar nada sobre as personagens hj... mas realmente a historia nos prende...

    excelente semana produtiva... abraços

    ResponderExcluir
  7. Obrigado pelos comentários inclusive os últimos acima. Ainda estou revisando o capítulo 23. A história está pronta, mas é necessário revisar, pois relendo encontro algumas redundâncias, como uma que infelizmente saiu no início, quando a Brenda narra que se viu no espelho, depois repete: Vi minha imagem refletida no espelho" e também noutro capítulo cuja narradora foi Alessandra e saiu escrito: "aramado" ao invés de armado, além do que também, os comentários de vocês me levam a acrescentar algumas coisas e retirar outras, que não comprometem, mas intensifiquem a essência do texto. O capítulo 23 está quase chegando. A demora foi por que esperei por mais postagens de seguidores frequentes, mas que não havia visto e ainda não vi e também para caprichar, pois vocês são meu estímulo. Espero que a história continue agradando, exercitando a imaginação de todos os seguidores e motivando cada vez mais.

    ResponderExcluir
  8. Gostei muito desse capítulo! me desculpe se estou apenas tendo uma visão crítica dos textos, mas na minha idade vejo o texto com mais profundidade, então não me cabe esclarecer o que está tão lógico prá mim. estou impressionada com a ligação de cada citação bíblica, vou aplicá-las sempre que oportuno.

    ResponderExcluir
  9. Mais um ótimo capitulo.
    Estou cada dia mais gostando da história.

    ResponderExcluir
  10. Amei o capítulo... passando pro próximo...

    ResponderExcluir
  11. Gostei da atitude da Alessandra em relação ao Beto e a ela mesma! O recluso em algumas situações é a melhor saída.

    ResponderExcluir
  12. Nossa, o que foi acontecer com o Beto?
    Bom que ela foi madura e conseguiu ser apenas amiga dele...

    Seus textos são para todos pensarem e analisarem.
    Pois as vezes só acontece coisas em cima de coisas, mas nem sempre paramos para pensar e analisar.

    ResponderExcluir