terça-feira, 3 de novembro de 2009

CAPÍTULO XVI

TENTANDO ESQUECER – CARLA
Não sei o que seria de mim se não tivesse amigas tão fiéis como Alessandra e Brenda. Pôxa...elas sempre se esforçaram pra me ver feliz. Eu tava vivendo uma revolução, uma batalha sem armas contra um inimigo que desconhecia, pois o verdadeiro inimigo, é invisível. Hoje eu entendo o que se passou comigo, mas têm situações que levam anos pra ser entendidas. Eu compliquei, é verdade, mas hoje consigo entender.
Alessandra me convidou pra passar um fim de semana na casa dela. Logo depois do trabalho fui pra lá e cheguei ainda cedo. Curtimos muito a praia e conversamos. Pra ser sincera, achei melhor a Brenda não estar, pois, mesmo sendo uma boa conselheira, eu na época a achava a mais careta de nós três, mas nunca deixei de amá-la por isso. Minha doce amiguinha Brenda, tão sensata, por que não a ouvi? Mas é assim mesmo. Muitas vezes as pessoas que mais nos amam nos alertam, a gente não ouve e quebra a cara. Mergulhamos juntas, brincamos na água como duas crianças. Depois sentamos nas nossas cangas e conversamos:
- Ai, Lessandra, ‘brigada por ter me convidado. Tava precisando deste sol de Ipa, dessa água. Pena que ela não lava meus maus pensamentos. Queria que servisse pra lavar minha alma.
- Carla, amiga, para de se torturar. O que eu posso fazer mais pra você se sentir melhor?
- Não sei Lessandra. Nunca me senti assim. Tô mexida, apaixonada pela pessoa errada.
- É duro, amiga. A gente não escolhe de quem vai gostar. Eu não tô apaixonada, não vivi uma emoção tão intensa assim. Sei que falei umas coisas da boca pra fora sobre o Allan mas pelo menos descobri que não sou a pessoa fria que parecia ser. Eu queria me fazer de forte, mas descobri que tenho uma grande fraqueza. Todos nós temos, mas as nossas são diferentes. Espero que minhas ainda muito poucas experiências sirvam pra você, como as suas sirvam pra mim. A gente tá sempre aprendendo, vamos tirar um proveito dessa união de anos que a gente tem. Nossa vantagem sobre muitas pessoas que podem estar passando por coisas parecidas é a nossa amizade. Eu não posso ver nem você nem a Brenda sofrendo. Me faz muito mal, eu não fico em paz, não fiquei nada bem naquele dia do churrasco.
- Eu agradeço.
- Não é preciso agradecer, você também ficaria assim por mim.
- É...eu já fui egoísta também. Quando a gente soube no mesmo dia que ia em breve se separar, seu problema era muito maior que o meu, que o da Brenda.
- É humano a princípio achar que ninguém tá com um problema maior que o nosso. Mas depois a gente sai daquela redoma e vê a realidade. Eu precisei de mais apoio, você e a Brenda deram, mas passou. Este momento agora é seu. Se a Brenda passar por dificuldades, a gente com certeza vai dar apoio à ela.
- Eu tô até me sentindo mal por estar mais à vontade sem ela aqui. Ela sempre foi tão mais ajuizada, ponderada.
- Ela quer o seu bem.
- Eu sei. Pra dizer a verdade eu até me sinto traindo a Brenda.
- Eu hein?! Por quê?
- É que... Lessandra, tá mais forte do que eu, acho que se o cara continuar me assediando, vou esquecer da culpa, esquecer da mulher dele, da educação que meus pais deram, dos conselhos da Brenda e...vou à luta por ele!
- Cuidado, Carla. Você tá muito seduzida pelo cara, usa a cabeça. Você pode estar cedendo ao desejo à atração e depois pode se machucar. Homens assim têm uma conversa boa, um jeito atraente, depois conseguem o que querem e jogam a garota fora.
- É...você pode estar certa.
- Sabe o que eu acho? Você nunca teve um namoro de verdade, sempre achou os garotos daqui de Ipa vazios, imaturos. Você gosta de homens mais velhos e esse cara te atrai por isso.
- Falou a psicóloga.
- Ah, querida, eu posso até nem entender a minha mente, mas a dos outros eu consigo até bem melhor. O que cê tá passando serve pra eu pensar porque não nego que eu poderia assim, como você disse, agir por impulso e me machucar também, claro.
- É muito difícil lidar com a vontade, reprimir o desejo. Parece que o proibido atrai mais.
- Eu entendo, mas...pôxa, Carla, com tanto cara pra você se interessar, tinha que ser logo por esse?
- Pra você ver...sei lá Lessandra, é uma coisa que eu não sei controlar.
- Eu acho que cê tá até controlando. Senão, não estaria aqui agora.
- É, mas não sei até quando. Foi bom desabafar com você e com a Brenda, mas não tiro o cara da cabeça.
- Sabe o que cura isso? Uma boa saída à noite. Vou ocupar sua cabeça com outras coisas, quem sabe você não conhece outro cara pela “night de Ipa”?
- Ah, mas e aí? Eu morando em “Paci”?
- Vamos só curtir, amiga! Não pensa em compromisso. Se algum cara daqui gostar de você, vai querer logo te visitar lá e pode ser que seja o príncipe que te traga de volta a este bairro.
- Tá, eu topo.
Ficamos mais um tempo na praia conversando sobre meus sentimentos confusos em relação ao Marcos. Contei sobre aquele dia que me vi forçada a aceitar a carona dele, que seu Arnaldo tava apoiando uma traição.
- Esses homens, são quase todos iguais. – Alessandra analisou – Digo quase, não por que eu ponha a mão no fogo por algum até que me seja provado o contrário, mas também procuro acreditar que em algumas coisas eles possam ser diferentes.
- O Beto quis se dar bem logo. Quando viu que cê não ia querer mais o Allan entrou dentro.
- É. Neste aspecto ele é igual a todos, mas acredito que neste momento não deve estar com outra. Nisto acho que ele deve ser diferente.
- Lembra quando a Brenda sugeriu esta hipótese em relação ao Allan?
- Lembro...eu falei da boca pra fora. Doeu vê-lo naquela noite justo com a Adriana. Foi uma dupla traição. Um cara com quem eu jogava aberto e uma garota que se dizia minha amiga.
- Será que ele não ia mesmo contar pra você, ou ela mesma não faria isso?
- Acho difícil. O que acontece é que as pessoas se envolvem, aí ficam com medo, deixam passar o tempo, arranjam desculpas e aí a gente sabe dessas coisas da pior maneira possível, como eu soube.
- Essa sua observação é um sinal de que você perdoou os dois.
- Eu sinto que sim. Encontrei com ele várias vezes na academia e ele ficou com vergonha de me cumprimentar, mas eu fiz questão de dar bom dia. Adriana também tava lá outro dia e eu também cumprimentei. Eu sou civilizada e sei que também colaborei pra situação chegar ao ponto que chegou. O sofrimento faz a gente amadurecer. Eu tô fazendo tudo pra que com o Beto seja melhor, mas ele também não é o amor da minha vida.
- Será que nós vamos saber o que é isso?
- Acho que você vai saber antes de mim.
- Não sei...acho que por um lado tento esquecer, mas por outro, tô quase caindo numa armadilha. Eu sempre disse que me entregaria ao homem certo na hora certa. Como é difícil ter coerência dos sentimentos com o que se pensa.
- Isso não é privilégio seu. Eu não fui coerente achando que ia conseguir ter um relacionamento tão aberto com o Allan. A gente pensa que sempre vai conseguir controlar os sentimentos, os pensamentos e as circunstâncias da vida mostram que não é tão simples como a gente pensa.
Voltei com Alessandra, descansamos, comemos e mais tarde o Beto ligou chamando Alessandra pra sair. Ela disse que me levaria e que não queria que eu segurasse vela. Foi aí que o Beto teve a idéia de levar um amigo dele, o Alex. Assim, fomos todos a uma danceteria em Copa. Alex até que era bonito, mas embora eu tentasse, não consegui me interessar por ele. Parecia um cara necessitado. Dançou comigo as músicas agitadas, mas depois nas lentas, deu pra me agarrar com uma força, que eu quase sufoquei. Com jeito, consegui sair daquela situação embaraçosa e pedi pra parar um pouco que eu tava cansada. Sentamos e o papo dele era muito chato. Só falava na faculdade, namoradas que teve, que as garotas tavam muito exigentes. Na primeira oportunidade que tive, falei com Alessandra que queria ir ao toalete e pedi que me acompanhasse. Entramos e eu falei assim que entrei.
- Lessandra, v’ambora?
- Por que Carlinha?
- Eu sei que sua intenção foi boa, mas aquele cara é um chato! Que papo mais furado que ele tem, como é vazio! Tô entediada!
- Carla, se coloca no meu lugar. Beto queria sair comigo e pra você não segurar vela, trouxe uma companhia. Guenta um pouco, menina. Será que não é você que tá com má vontade?
- Lessandra, desculpa, mas cada vez mais eu chego à conclusão que não me afino com garotões, gosto de homens mais velhos.
- Ai, Carla, eu tenho tanto medo que este seu gosto te leve a sofrer mais do que tem sofrido.
- A gente não escolhe de quem gosta.
- É, mas o cara tem a mulher dele lá e tá tirando seu sossego.
Fiquei de cabeça baixa, quase querendo chorar e Alessandra segurou meu queixo olhando firme pra mim.
- Cabeça erguida, Carla. Tenta curtir, eu tô aqui contigo, sempre que precisar.
Voltei e sentei, mas meu pensamento ficou distante e eu não conseguia aturar o papo do Alex. Como não ia pedir outra vez à Alessandra pra sair, como uma válvula de escape tomei uma bebida. Quando ia pedir outra, um cara que tava perto me ofereceu a dele e achei muito forte, engasguei e ele bateu nas minhas costas. Ficamos conversando. Ele era um pouco mais velho do que eu, até o achei atraente. Mas meu interesse durou pouco quando uma garota apareceu e disse pra ele na maior bronca:
- É só eu virar as costas que você começa, né?!
- Tô saindo fora! – eu disse dando as costas, fazendo questão de ignorar o que a garota dizia. Fiquei chateada e sentei ao lado do Alex, pois vi que não tinha outra saída. Bebi do copo dele e pedi mais bebida. Alessandra estranhou, mas eu disse ao ouvido dela:
- Pelo menos assim, eu consigo agüentar. – bebi de um só gole um copão. Pra extravazar, peguei Alex pela mão e o chamei pra dançar. A música tava agitada eu pulei, comecei a fazer palhaçadas. Me desequilibrei e acabei caindo. Ele me ajudou a levantar e eu fiquei com vergonha e chorei. Ele ficou preocupado, foi até legal comigo. Fez carinho no meu rosto me levou pra sentar.
- Cê tá bem? – ele perguntou, oferecendo um lenço pra eu enxugar as lágrimas.
Cobri meu rosto com o lenço e chorei muito mais. Foi um vexame. Alessandra foi compreensiva e me abraçou. Falando ao meu ouvido.
- Que é isso, amiga? Agora a gente vai. Cê não tá bem.
Eu abracei Alessandra forte e falei chorando.
- Me ajuda...
- Claro que ajudo, mas vamos lá pra casa, não fica assim.
Fiquei do lado de trás do carro com a cabeça no ombro de Alessandra que me consolava. Ela saiu antes do carro pra se despedir do Beto, que senti que estava chateado.
- Cê tá bem, gatinha? – Alex perguntou
- Não...tô péssima! – respondi chorando mais
- Como é que você, uma garota tão linda pode estar assim, tão triste? Cê tem uma vida pela frente.
- Eu queria é não ser linda como você disse! Queria que não olhassem tanto pra mim, preferia até ser feia, horrível pra não me sentir assim...deixa pra lá, desculpa...você não tem culpa de nada!
- Tá, eu também me desculpo pois queria ajudar e não consegui.
- Vamos, Carla. – Alessandra chamou e me amparou.
Beto ofereceu ajuda. Os dois me seguraram e Alessandra despediu-se dele e imediatamente me pegou e me colocou no chuveiro frio. Fiquei com tanta vergonha de ter dado o trabalho que dei! No dia seguinte não conseguia olhar pra Alessandra. Ela foi tão paciente, trouxe um chazinho pra mim.
- Desculpa Alessandra...perdão...- eu disse chorando
- Carla, não vai começar um novo festival de lágrimas. Eu entendi, não faz drama e toma este chá. Um dia você vai rir de tudo isso.
- Será?
- Não pensa mais nisso. Pensa no que você precisa fazer, na sua faculdade, no seu trabalho. Desliga. Vamos em frente.
Ai se fosse tão fácil! Eu até que tentei, mas sabia que no dia seguinte ficaria pertinho da boca do lobo.

11 comentários:

  1. Que luta interior!
    Sem Jesus dificilmente venceríamos essas lutas.

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  2. Cada um tem o seu momento de encontro com Jesus. O da Brenda está começando.

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  3. Têm lutas que duram mais tempo, principalmente quando as pessoas ainda não conhecem as armas certas.

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  4. É verdade, as tentações do mundo e o cotidiano sem Cristo nos levam a cometer as maiores loucuras, mesmo sabendo/intuindo que são loucuras, não conseguimos resistir, na maioria das vezes. Não sem Jesus. Mas Ele em sua infinita misericórdia tem um plano para cada uma de suas criaturas.
    Bem, voltando à estória, estou notando que a Alessandra está mais madura, está conseguindo sacar as suas próprias dificuldades de relacionamento, e, isto a está tornando menos egoísta e apta a enxergar os que a rodeiam. Está sendo uma grande ajuda para a Carla.
    Até mais...
    Graça e Paz!

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  5. Apesar disso Alessandra não é tão centrada quanto a Brenda e embora tenha chocado seu pai quando este soube que não era mais pura, para a mãe isso não tem tanta importância, pois as mulheres se sentiram sempre mais injustiçadas, por conta do machismo e assim deram-se ao direito de liberar-se com o tempo. Isto é uma tremenda ilusão. Alessandra teme que Carla se envolva com Marcos, pois sabe que isso não dá futuro e Brenda tem valores morais mais acentuados do que Carla, que das três foi a mais reprimida, embora tenha conseguido driblar em algumas situações os pais que não souberam acompanhar como deveraim a filha. Neste caso faltou diálogo em família.

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  6. Nossa, cara, a Carla viajou, meu!
    Que doidera, para que isso?! sei que ela não é crente, nem nada, mas isso tb foi terrivel!!

    Vou fazer um apelo para Carlinha: CARALA, SE SEGURA, GAROTA! VOCÊ VAI ARRUMAR ALGUÉM LEGAL. ACREDITE, DA PARA AGUENTAR! QUANDO O MARCOS CHEGAR PERTO DE VOCÊ, GRITA E SAI CORRENDO!!


    P.S.: Adorei o "Parecia um cara necessitado", ficou muito bom!! ^^

    Bj... Fica na paz!

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  7. "porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero esse eu o faço!..." diz as escrituras.. lembrei dessa passagem ao ler este cap..

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  8. Bebida na festa, dança descontrolada, banho frio acho que já vi essa cena antes.

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  9. Vou te dar uma outra dica valiosa:
    a lista de blogs que vc segue, coloca na lateral na pagina e não no cabeçalho... vai vaorizar ambos e destacar teu texto... a letra ficou ótima e muito mais legível... passando pro próximo...

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  10. Hummm... tomara de Carla consiga resistir, é tão difícil! Vou torcer mto por ela.

    Está mto bom Vinícius, vou adiante.

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  11. Ixiiii, o negócio tá difícil para Carla, e a Alessandra foi muito paciente com a amiga.
    Estou gostandoooo...

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