domingo, 1 de novembro de 2009

CAPÍTULO XII

CRESCIMENTO – BRENDA
Como é bom trabalhar, ter noções de responsabilidade cedo e conquistar uma clientela sempre fiel. Muitas coisas me atraíam na Penha. As festas, mas achava um absurdo aquela história de subir as escadas de joelhos. Algo me dizia que não era necessário isso pra se chegar a Deus. Também achava outras coisas exagero e via gente sem compromisso, fazendo coisas que eu nunca faria, enchendo a cara em noitadas. Apesar de ser um bairro calmo, eu via isso lá e me incomodava tanto quanto em Ipanema, onde eu via isso muito mais. A diferença era que eu morava antes em prédio e tudo era mais escondido. Lá a gente não saía até muito tarde, só com colegas de carro e quando a Alessandra ia mais longe, nem meus pais nem os da Carla permitiam que a gente também fosse. Acho que devido ao meu modo mais pacato de vida, dona Maria, a vizinha da casa em frente uma vez me convidou:
- Brenda, você gostaria de me fazer companhia indo comigo à minha igreja aqui perto?
- A senhora vai de manhã ou à noite?
- Vou domingo de manhã.
- Eu aceito, só tenho que pedir aos meus pais.
Falei com meus pais e eles aceitaram com algumas reservas, mais pra agradar dona Maria que era uma cliente assídua da loja.
Fui com dona Maria, chegamos um pouco antes do início do culto, ela foi me apresentando, algumas pessoas eu já conhecia da vizinhança, outras de vista, outras estavam de visita. O culto inicialmente teve músicas de louvor e embora não tenha gostado de todas, lembro que falavam de amor, Jesus. A palavra “ressuscitou” numa delas ficou guardada na minha mente, comecei a pensar na Páscoa. Amo chocolate, mas nunca havia parado pra pensar que esta data festiva tem um sentido muito mais amplo: a ressurreição de Jesus. Quando começou a pregação, o que foi lido me marcou muito: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16). Ao final da pregação, o pastor perguntou se alguém queria declarar que Jesus era o seu único salvador. Vi algumas pessoas indo à frente e repetindo uma oração. Quando saímos, dona Maria foi falar com algumas pessoas e voltou com uma Bíblia na mão.
- É sua.
- ‘Brigada, mas meu aniversário já passou.
- Não é preciso dar presentes só em aniversário. Tem uma dedicatória, leia e entenda esta mensagem
A dedicatória dizia:
Minha querida Brenda, agora você poderá conhecer melhor a palavra de Deus lendo tudo o que Ele deixou de presente para nós. Quando abrir, peça a Deus em nome de Jesus que revele através do Espírito Santo sua mensagem. Jesus te ama e eu também. Comece a ler pelo novo testamento que é mais simples de entender pra quem ainda não conhece. Leia todo dia, nem que seja um versículo. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8 : 32)
Comecei a ler aos poucos a Bíblia começando por Mateus que narra a genealogia de Jesus. Engraçado que eu lia e observava com a pureza de uma aprendiz: “Quantos nomes, tudo isso pra chegar até Jesus.” Queria entender, mas não fiz inicialmente como dona Maria recomendou na sua dedicatória. Embora começasse pelo novo testamento, o que prevaleceu em mim foi a curiosidade. As passagens iniciais sobre o nascimento de Jesus me fizeram rememorar o que já sabia pela tradição de natal, mas algumas coisas eram novas, pois nunca tive a oportunidade de ler capítulos seguidos. Conhecia muito pouco. Fui sentindo gosto por ler a Bíblia e comecei pelos pedacinhos mastigáveis, mas, para digerir o verdadeiro conteúdo não foi imediato. Fui me alimentando aos poucos, tomando o meu leitinho lendo em casa e indo com dona Maria aos cultos. O pessoal era muito simpático e era interessante estar aprendendo a Bíblia de um modo diferente do que os livros de escola que a gente tem que seguir aquela unidade e passar pra seguinte. Era mais dinâmico aprender ouvindo pregações acompanhando na igreja passagens do antigo e novo testamento lá e lendo só o novo em casa. Mas como sempre fui muito curiosa, quando via escrito no rodapé passagens do antigo testamento que complementavam o novo, lá ia eu passeando pela Bíblia. Comecei inconscientemente a estudar as correlações entre o novo e o antigo testamento. Um dia, ouvi meu pai comentar com minha mãe:
- Essa menina agora fica com a cara enterrada na Bíblia, até pro trabalho leva e fica lendo quando não tem movimento.
- É curiosidade. – minha mãe argumentava
- Acho esses crentes muito exagerados. – meu pai criticava
- Até que a dona Maria não é tanto. Na igreja dela o pessoal não tem aqueles hábitos de saia até o pé, homens engravatados. – minha mãe observava
- É, mas não sei se isso é uma boa influência pra Brenda. – meu pai insistia
- Luís, mal não pode fazer a ela. Eu vejo as pessoas daqui da vizinhança que vão, são rapazes e moças tão bonzinhos, quietos, muito diferentes dessa garotada que só fica falando bobagem, saindo de noite e voltando de manhã de cara cheia.
- É, mas também têm uma vida muito de casa pra igreja, da igreja pra casa, do trabalho pra igreja. Também se precisa aproveitar a vida.
- A Brenda ao modo dela aproveita. Ela gostava mais de sair com a Carla e a Alessandra. Agora estão longe, ela tem menos amigos e tá gostando de trabalhar na loja, cada um é de um jeito, independente de estar ou não numa igreja.
Continuei aceitando convites de dona Maria pra ir à igreja e meu pai embora olhasse com um “rabo de olho” pra mim quando ela passava na loja e convidava, não falava nada, pois ela era uma cliente assídua e sempre muito simpática. Achei interessante que uma das vezes que foi lá me convidar falou pro meu pai:
- Seu Luís, Deus vai dar muita prosperidade pra sua família, pro seu primo que é seu sócio, o senhor vai ver. Esta loja vai ter filial.
Meu pai sorriu como correspondendo uma gentileza, mas parecendo discrente, pois pensou em todas as dificuldades para manter uma loja, quanto mais outra. Qual não foi minha surpresa quando o primo Otávio chegou lá dias depois todo animado dizendo:
- Luís, vou abrir uma filial em Madureira, tá praticamente certo, só preciso fechar com o proprietário. Desta loja agora você cuida, vou ter a ajuda da Marina, - Marina é mulher de Otávio – e assim que abrir, vou ficar direto lá.
Aquilo me impulsionou ainda mais a ir pra igreja. Lembrei de uma passagem bíblica que havia lido: E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. (I Coríntios 12 : 10). No domingo, fui novamente à igreja e mais uma vez a palavra me marcou: Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. (I Coríntios 3 : 6 - 7)
Comecei a me sentir como uma plantinha que precisa ser regada e cada vez mais que ia à igreja e lia em casa ou no trabalho ou em qualquer lugar que levasse a Bíblia sentia que estava havendo em mim este crescimento.

13 comentários:

  1. Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. (I Coríntios 3 : 6 - 7)

    Maravilhoso o texto com a combinação da personagem.

    A paz!

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  2. Obrigado, continue frequente aqui no blog. O escritor sensível é resultado do leitor sensível e isto é essencial. (repostado por erro de digitação.

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  3. A Brenda é uma fofa... rs

    Acho "engraçado" esse jeito que as pessoas pensam que estão aproveitando a vida...
    Pergunta: o que sera "aproveitar a vida" pra eles? [NÓS SOMOS DE CRISTO, E APROVEITAMOS SIM A VIDA!] ;)

    Fica na paz...

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  4. Como pode se notar, o pai da Brenda não concebe que igreja seja um lugar onde as pessoas se sintam como em casa, como é o caso da minha onde há pessoas que depois do culto matinal vão à praia em frente e depois tomam banho na igreja pra ficar pro culto noturno, considerando que estão numa extensão de seu lar. Ele acha que a filha deve se divertir, sair pra outros lugares, mas sabe que ela não slhe causará nenhuma decepção, pois lhe deu boa orientação. Já a mãe, que também é segura em relação à educação que deu à filha, é muito light, não vê a igreja como ambiente que lhe seja prejudicial. O pai é mais preocupado e a mãe bem mais trnaquila, talvez o que os complete como casal entrosado que é.

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  5. gostando muito da leitura,a conexão bíblica com a passagem do texto.

    13 de janeiro de 2010 09:48

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  6. [aai] vou parar por aqui agora.. [duas e cinco, da manhã!] continuo mais tarde!!
    mas assim, cara! tô abismada aqui com as coincidências!! pq assim como a Brenda eu já morei no bairro da penha, no Rio mesmo! Era muito pequena, entre sete ou oito anos.. [lembranças desconexas e incertas] tinha acabado de me mudar de Salvador, Ba, para o Rio.. meu pai, militar, tava na escola de sargentos, arranjou de alugar uma casa com um amigo do trabalho e assim trazer as duas familias de longe! e onde foi que ele arrumou uma casa? acertou quem pensou na penha! .. [lembro da igreja da penha.. e da escadaria! nem subi de joelhos não.. nasci num lar cristão e já sabia que as coisas não funcionavam desse jeito!] mas fui lá pra conhecer e tal . tenho até uma fotinha!! ihi!

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  7. Eu até reli partes deste capítulo. Sempre tem alguém que lê e se identifica. Recordei que quando Brenda narra suas primeiras experiências com a Bíblia, me inspirei em mim mesmo, só que com uma diferença: eu lia o antigo testamento e pelo rodapé encontrava citações do novo e estudava as correlações sem perceber. Quando comentei com a pastora da igreja, ela disse: "Então você não está lendo, está estudando a Bíblia". Eu também aprendia com as pregações e até hoje é assim que eu mais aprendo.

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  8. É legal essa experiência toda da Brenda. E a cada dia me identifico com ela.
    Vai fazer 14 anos que sou cristã e demorei uns 7 anos para pegar a biblía e começar a ler mesmo, quando decidir estudar a palavra de Deus foi por causa dos estudos. Eu tenho sede de conhecimento e foi isso que me impulsionou.
    E sobre o pai da Brenda:Tem muitas pessoas que pensam como ele.Um dia eu e uma amiga estavamos vindo do lago e uns caras parou a gente para nos conhecer e cumprimentamos conversamos numa boa sem intimidade e conversa vai conversa vem falamos que eramos crentes,depois eles perguntaram se a gente não faz nada pra se diverti que o pessoal tem que ser alegre. Eu falei: Quem disse que não nos divertimos? Somos o povo mais alegre deste mundo.
    Ah! E teve uma vez que minha irmã estava em um cabelereiro e era perto da igreja assembléia daqui de Araputanga. E ia ter festa na igreja e nós somos da igreja Batista. Entrou um cara no cabelereiro e começou falar mal das festas dos crentes. Como minha irmã é curta e grossa disse: Se fosse algum carnaval ninguém tava falando mal. Pelo menos nas festas de crente no outro dia podemos continuar festando por que ninguém vai estar de ressaca.
    Ela disse isso inspirada no hino de Raysa e Ravel: Festa de crente.

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  9. Gostei do capítulo..
    A Brenda sempre foi a mais ajuizada das meninas, e está entrando p/ o caminho certo! E desse modo com certeza aproveitará mais a VIDA!!!(o povo de DEUS sempre aproveita bem a vida, fazendo o que é certo..!)

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  10. A Brenda lembra de mim, sempre fui sossegada, no meu canto, não era de sair com a galera na noite...
    Sempre fui de querer fazer as coisas certas...

    Cada uma das meninas tem suas próprias características e diferença, e isso é nítido.

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