terça-feira, 24 de novembro de 2009

CAPÍTULO XXX

QUATRO ANOS DEPOIS – ALESSANDRA
Enfim formadas. Eu já professora da academia e também trabalhando por minha conta como personal trainer pras dondocas de Ipa. Eventualmente aparecia em revistas sobre modas de esporte e verão. Embora meus pais pudessem me dar um imóvel pra que eu trabalhasse mais por minha conta, eu preferi não depender deles, não por orgulho, mas como uma retribuição do muito que fizeram por mim. Brenda foi um exemplo neste sentido pra mim. Ela tava noiva! Valeu a espera. Um rapaz educado, gentil, cavalheiro, um exemplo pra muitos outros. Eu continuava nos meus desencontros. Não pensava em ter um marido homem com quem compartilhasse uma vida. Brenda dizia: “Deus vai dar o seu varão.” Mas eu não tava nem aí. Achava que casamento era uma instituição mais do que falida e tinha medo de relacionamentos duradouros, intensos.
Carla estava melhor, mas seu rosto não expressava alegria, parecia a personificação de uma música antiga que meu pai escutava às vezes: BOM DIA TRISTEZA. Ela tinha uma vida normal, fazia o que tinha que fazer, ia vivendo, mas era triste, todos reparavam. Depois da morte do pai, ela ficou com tanta depressão que teve que ser internada um tempo em uma clínica psiquiátrica. Eu e Brenda íamos regularmente visitá-la. Enchíamos-nos de coragem, Brenda orava antes, eu nem sabia orar, mas aceitava e concordava. Era duro agüentar o tranco enquanto estávamos lá. Brenda aproveitava pra evangelizar, lia a Bíblia pra outros internos e eles se alegravam com a presença dela, que, mesmo depois de Carla ter saído, continuou com esse compromisso. Nós animávamos Carla, éramos carinhosas, paparicávamos nossa amiga, desejando que ela saísse logo. Brenda era um anjo com ela. Tratava Carla como um neném, fazia carinho, abraçava, dava muitos beijos naquele rostinho que tava sumindo de abatimento, dava comida e depois ainda ficava com ela, fazendo carinho nos cabelos dela, que estavam mais curtos, até dormir. Brenda dizia coisas tão lindas pra Carla:
- Florzinha do jardim do meu coração. Tô aqui pra regar você. Jesus te ama e eu também.
Na saída, eu procurava um canto e o ombro de Brenda pra chorar, pois me doía tanto ver a Carla com aquele olhar parado, cabeça baixa. Brenda me consolava e dizia que em breve ela sairia. Carla às vezes chorava, o que era até bom, pois muitas vezes nem isso ela conseguia. Ela atrasou-se um período na faculdade, pois não tinha condições de voltar logo. Houve compreensão e consideração no trabalho também. Ela teve uma licença e depois voltou a trabalhar. Antes de se formar, já trabalhava como professora na academia. Quando se formou, távamos lá eu e Brenda aplaudindo na primeira fila.
- Parabéns, amiga. Jesus te ama e eu também – Brenda a abraçou.
- ‘Brigada. – Carla agradeceu tentando sorrir
- Cê lembra do Márcio, meu noivo? – Brenda apresentou
- Ah, oi, ‘brigada por ter vindo também.
- Parabéns, Carla. – Márcio a cumprimentou
- Vamos comemorar? – eu convidei
- Tá meio tarde. – Carla não se animou
- Ah, Carla, é por minha conta. – eu insisti
Acabei convencendo o pessoal e banquei junto com minha mãe um jantar informal numa pizzaria lá perto. Jacyra estava na formatura da filha por pura obrigação. Os rancores eram óbvios entre as duas. Quando Carla foi ao toalete, aproveitei pra falar com Jacyra.
- Jacyra, eu sei o quanto você sofreu com a perda do seu marido, mas a vida continua, sua filha tá viva.
- Espero que ela tenha aprendido a lição da vida.
- Ela sofreu muito.
- Cabeça não pensa, o coração padece.
- Jacyra, será que você nem para pra pensar o quanto foi horrível o tempo que ela ficou na clínica? Ela, nem tá curtindo a formatura. Ainda mais você com essa cara de enterro. Se alegra, mulher! Tua filha tá formada. Superou uma depressão e tem gente por aí que até se suicida! Tô te desconhecendo! Tá ficando amarga e cruel!
Nada do que eu falasse ia adiantar. Jacyra não disse um parabéns à filha, ficou mais calada que ela. Minha mãe chegou a chamar a atenção de Jacyra, disse depois pra mim que teve vontade de virar a mão nela por ver tanta frieza. Eu pelo menos fiquei feliz por oferecer um jantar pra quem sempre foi, é e sempre será tão importante na minha vida. Nós éramos inseparáveis e embora as circunstâncias vida tentassem nos separar, nunca deixamos nossa amizade morrer, porque ela vai pra eternidade.
Ainda pensando muito sobre os últimos acontecimentos, feliz por uma amiga que estava noiva e triste por outra que queria ver feliz também, estava eu numa manhã ensolarada de domingo passeando na rua fechada de Ipa próximo à praia, quando avistei alguém conhecido na direção contrária.
- Allan! – eu gritei
Ele acenou pra mim e veio ao meu encontro.
- Oi, que bom te ver. – Allan veio sorridente
- Pois é, depois de tanto tempo.
- É, 5 anos.
- Cara, eu me formei. Trabalho lá na academia, sou personal trainer. E você, como tá?
- Tô numa ótima! Montei uma academia de surf. Preparo um pessoal lá em Floripa durante um ano pra competir. Um grupo de garotos e garotas, entre 17 e 18 anos, logo depois de acabar o 2º grau, competem e um garoto e uma garota são selecionados pra competições em circuito internacional, no Chile, Marrocos Indonésia, Austrália, Havaí, conforme for a oportunidade. Eu fico com pena de ter que escolher tão poucos, todos são muito bons, mas não tem lugar pra mais, fica muito caro.
- Ah, mas que legal, Allan! Você sempre gostou de surf, mas eu não pensava que ia levar tão a sério.
- Surf é uma arte, mas também é disciplina. Lá onde o pessoal fica, eles aprendem além das técnicas, o mais importante: a união, o espírito de grupo, as tarefas de casa, arrumar quarto, roupa, fazer comida. Enfim, a disciplina e o bem estar do grupo dependem do compromisso de cada um.
- Pôxa, é difícil ver uma coisa dessas aqui no Brasil.
- Pois é. É um modelo americano. Mas tem dado certo. Eu não sabia usar o dinheiro, mas agora eu sei.
- Mas é só isso ou tem mais coisa? Você casou?
- Não, tô esperando em Deus.
- Como?!
- Eu agora sou crente. Na academia ensino também a todos a palavra de Deus.
- É?!
- É.
- Uma amiga minha, a Brenda, você lembra?
- Ah, acho que sim, tava no seu aniversário de 18 anos.
- Ela também é crente há 4 anos. Tá noiva, vai casar.
- Glória a Deus!
- Ai, Allan, quem diria, eu te encontrar aqui agora. Pensei que você ia ficar com a Adriana.
- Não durou muito. Outras apareceram, mas tudo ilusão. Eu não casei, mas tenho uma filha.
- É?
- Ela tá com 3 anos. Foi um lance rápido, mas pelo menos valeu pela minha menina.
- Qual é o nome dela?
- Natália.
- Belo nome.
- É a minha bonequinha, Natalinha.
- Pôxa, Allan, foi bom mesmo te ver.
- Ah, antes que eu esqueça você tem também outra amiga...
- Carla.
- É. Como vai ela?
Quando ele perguntou isso, eu quase chorei.
- Allan, ela tá até bem, se formou, outro dia foi a formatura dela, mas...
- Mas?
- Ela não tá feliz. Eu fico sempre pensando no que fazer, até levei pra jantar fora no dia da formatura.
- Ela teve algum problema sério?
- Vários, mas é melhor não falar, não quero trair a confiança dela. Entre outros problemas houve o falecimento do pai dela.
- Lamento.
- Allan, eu tenho que ir, mas se você acredita mesmo neste Deus que a Brenda também acredita pede a Ele pela minha amiga. Brenda e Carla são muito importantes pra mim. A Brenda tá até muito bem, mas sei que como eu, não pode se sentir totalmente feliz se a Carla também não estiver feliz.
- Você tem esta grande qualidade que eu aprecio muito Alessandra. A amizade. Uma coisa difícil de encontrar hoje em dia.
- Allan, só mais uma coisa: você sabe do Beto?
- Claro que sei, ele é da minha igreja.
- É?!
- Ele se libertou do álcool, das drogas e faz parte de um ministério pra libertação de qualquer vício, ou dependência emocional lá na igreja.
- Pôxa...cês devem fazer um trabalho bonito lá.
- Você pode dar a honra da sua visita. Tá aqui um folheto. Neste período eu tô aqui. Nesta fase do ano ainda dá pra ficar um pouco aqui e lá. Depois volto pras eliminatórias e pra selecionar os alunos do próximo ano.
- Pôxa, boa sorte, querido. Foi mesmo muito bom te ver.
- Digo o mesmo. E lembre-se: Jesus te ama.
- Amém! Té mais!
Fiquei surpresa com a mudança do Allan. Que sorriso sincero, que expressão de felicidade, de amor. Foi tão gentil e senti que ficou sensibilizado quando falei da Carla. Até pensei nela, quando ele falou que o Beto havia se recuperado e que o trabalho deles na igreja não se restringia a viciados. Sei que a Carla procurava outro tipo de ajuda nuns grupos anônimos lá mesmo pela zona Oeste, mas depois entendi que a doença de minha amiga era na alma.

12 comentários:

  1. Puxa vida! Que salto: de tempo... de mudanças e transformações de vidas. Dos personagens paralelos sendo tratados pelo mover de Deus, levando-os a se reencontrarem, impactando as vidas, num entrelaçamento...
    Nada do que Deus faz é por acaso na vida de ninguém. Tudo vai se encaixando, de forma a se cumprirem os planos de DEUS...
    Como diz a Palavra:
    ...tudo colabora para o bem daqueles que temem a Deus...
    Deus trabalhando e honrando as orações da Brenda, do Márcio...
    Aguardo anciosa o próximo Capítulo... Há clima de esperança e renovação no ar...
    Graça e Paz!

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  2. Amém, irmã. Como vê ocapítulo está um pouco mais light. Depois de tanta tempestade, aos poucos está vindo a bonança. Aguarde até amanhã as novas emoções de VIDAS SEPARADAS.

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  3. Ai que legal...gostei do salto no tempo que a historia deu.
    O Alan e o Beto na igreja... que otimo!Só falta a Alessandra e a Carla.
    E a Brenda noiva, que felicidade!
    O clima tá muito bom nesse capítulo, espero pelos próximos ansiosa!

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  4. Como pode se notar é essencial a combinação de uma dose de drama, de tristeza e depois um pouco de paz, de esperança. A vida traz suas surpresas e vocês terão muitas no próximo capítulo.

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  5. P.S. Coloquei esta bara de vídeo na intenção de que apreciassem os vídeos: CANÇÃO PARA MINHA AMIGA & IMPOSSÍVEL DE ESQUECER, mas acho que vídeos em geral aparecem. Ainda não soube como selecionar e peço desculpas pois queria que só vídeos do estilo gospel aparecessem.

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  6. P.S. 2: Como notei que apareceram vídeos indesejáveis, não tive outro recurso que não fosse excluir e isso é um penacho, pois CANÇÃO PARA MINHA AMIGA & IMPOSSÍVEL DE ESQUECER, têm tudo a ver com o texto.

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  7. ufa!!! aqui as lágrimas desceram grossas pelo rosto!!!

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  8. quatro anos depois .. puxa!! triste ainda pela situação da Carla .. mas feliz e surpresa com o Allan e com o Beto que aceitaram a Jesus! que maravilhaa!! a Brenda noiva.. e do Márcio!!
    Puxaa vida!!

    lendo..

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  9. Nossa que bom o Allan e o Beto já mudaram de vida. Falta só as outras duas.

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  10. Ufa!!! Quantas coisas ótimas, mto bom. Tomara q Alessandra e Carla tbem tenham um encontro bem especial com Jesus.

    Grande abraço.

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  11. Nossa, quantas coisas aconteceram...

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